O que fazer se os valores que deveriam nortear a vida em sociedade parecem cada vez mais esquecidos? Como educar nossas crianças e jovens num tempo em que a aparência vale mais do que a essência, o ter mais do que o ser? A competição e o individualismo ditam as regras dos relacionamentos, minando qualquer possibilidade de companheirismo, de amizade? Não podemos esperar que as novas gerações modifiquem o que está errado se não despertarmos para o fato de que cabe a nós, adultos, dar o exemplo.
As dificuldades, os conflitos, as guerras e a intolerância que se apoderam do mundo são resultado dessa inversão de valores que predomina na sociedade. É necessário reconhecer a importância de nosso papel como educadores e – com muita perseverança - amparar, reerguer, reavivar valores e atitudes que renovarão a confiança em dias melhores.
Com estas inquietações na alma Gabriel Chalita no seu livro “A Pedagogia do Amor”, por meio da análise de dez histórias escolhidas pela relevância de seus ensinamentos, resgata em nós - adultos comprometidos com o ato gratificante de educar - valores imprescindíveis para a formação da nova geração e a construção de um novo tempo.
Escolhi para compartilhar com meus colegas a história do Patinho Feio, criada por Hans Christian Andersen, pois ela aborda questões essenciais para os nossos dias como o respeito e a solidariedade. Quem não se comoveu, chorou ou sofreu acompanhando as peripécias do patinho feio, tão pequeno e indefeso?
A história narra a trajetória de uma ave que por sua feiura era desprezada por seus familiares e pelos animais do lugar onde nasceu. Porém, no final da trama consegue vencer as adversidades do destino, superando os obstáculos e provando sua superioridade.
Esse breve resumo, com certeza, é um passaporte mágico para nossa infância. Uma época singular, rica...
A riqueza da história reside na capacidade de despertar em nós o sentimento de amor ao próximo, de solidariedade e de respeito às diferenças.
Respeito! O que é respeito?
A palavra respeito vem do latim respectus que quer dizer “ação de olhar para trás; consideração”. No dicionário Houaiss da língua portuguesa, o vocábulo traz: “ato ou efeito de respeitar (-se), que leva alguém a tratar outrem ou alguma coisa com grande atenção, reverência, profunda deferência.“
O conceito de respeito está ligado às ações que levam à prática do bem coletivo e favorecem a manutenção da paz, da união e da boa vontade entre os povos.
Sobre o respeito Gabriel Chalita diz, “Infelizmente, o seu emprego tem sido relegado a ponto de observarmos a ascensão do preconceito, da competitividade exacerbada, da banalidade dos relacionamentos, do materialismo e da ambição desmedida.
Quando tomamos conhecimento dos infortúnios do patinho, é como se acordássemos para a necessidade de cuidar, de amar, de dedicar atenção a quem precisa, a quem está desamparado, carente, desprovido de apoio, perdido, fora do ninho.
O conto é rico em elementos e informações variadas que nos levam a questionar, a analisar, a debater e a refletir sobre os significados presentes na saga do pequeno protagonista. Um protagonista ímpar porque representa um herói às avessas, rejeitado por todos, a começar pela mãe, pelos irmãos e pelos membros da comunidade onde nasceu.
Esperamos como expectadores e, sobretudo, como seres humanos que se projetam no universo das histórias e das suas personagens, a superação das adversidades experimentadas pelo patinho feio. Desejamos que ele consiga vencer, devemos acompanhá-lo fielmente pelo universo negativo que pontua sua jornada. Uma jornada cheia de agressividade, de desdém, de preconceito e de intolerância – manifestações que jamais encontrariam eco se houvesse tanto no conto de Andersen quanto na vida real, o respeito às diferenças e o entendimento da importância dessa atitude para o crescimento emocional e intelectual de todos”.
O que tiramos dessa reflexão para nossa vida, como educadores, pais, cidadãos?
Temos a responsabilidade e o dever de orientar nossas crianças e jovens para a aceitação do outro, para a compreensão de que condutas preconceituosas ou intolerantes, só colaboram para a degradação das relações e para o desentendimento entre as pessoas. É preciso ensiná-los a respeitar a diversidade como algo inerente a um mundo pluralista, dinâmico, multicultural.
Podemos concluir também com a narrativa de Hans Christian Andersen que não há crescimento sem sofrimento; não há felicidade sem lutas, sem obstáculos. Não há sensação de pertencimento se não compartilharmos nossa vida, nossas experiências e nossos aprendizados com os que nos são ou não semelhantes. Devemos acreditar em nós e nos outros. Não há como nos sentir iguais se alimentarmos temores e receios em relação aos outros, mesmo que a princípio eles pareçam tão diferentes.
Prof.ª Maria dos Anjos
segunda-feira, 30 de maio de 2011
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