sábado, 3 de novembro de 2012
Gestor e cultura monárquica
A cultura monárquica nas organizações brasileiras
Sílvio Celestino
Em pleno século XXI, uma professora, no Maranhão, é demitida por colocar, na rede social, fotos que revelam as condições de sua sala de aula: goteiras que obrigam alunos a assistir aula com guarda-chuvas abertos. É claro que somos herdeiros da cultura de nosso passado, mas também, somos agentes transformadores dela. Como tais, não podemos nos furtar de parar com essa cultura monárquica que impera no Brasil.
Se não, vejamos: a casa do presidente se chama Palácio da Alvorada. A casa da justiça, Palácio da Justiça. Aqui em São Paulo, o governador mora no Palácio dos Bandeirantes. Que palácio? É a casa do governador, apenas isso. Em sua cidade, você provavelmente deve ter uma padaria com o nome de Rainha dos Pães”. Pelé é considerado o rei do futebol. E Roberto Carlos, é claro, o rei.
Nas empresas, matem o mensageiro!
Quando essa cultura entra nas empresas, os profissionais em cargos de comando param de se auto-observar como CEOs, presidentes, diretores e gerentes. Como consequência, comportam-se como se fossem reis, vice-reis, príncipes e princesas. Com direitos divinos e inatingíveis. Assim, ninguém pode levar uma má notícia ao rei. E quem ousa fazê-lo sofre a versão moderna da decapitação: é boicotado, prejudicado e demitido. Como a professora dessa infame história.
O fato de alguém ter um cargo maior significa apenas que possui mais responsabilidade sobre pessoas, negócios, operações e orçamentos. Portanto, deveria agradecer àqueles que apontam os problemas e o auxiliam a conhecer a realidade de sua gestão. Assim pode dar foco naquilo que é relevante, e que está sob sua responsabilidade.
Uma organização na qual os principais dirigentes não recebem más notícias está condenada.
O mundo mudou
Mas o maior problema é a falta de percepção dos dirigentes empresariais de que o mundo se transformou e que eles precisam fazer o mesmo. As comunicações, as redes sociais, a informação para todos colocaram os dirigentes em um ambiente maior, mais complexo e, portanto, mais desafiador.
Não adianta esconder a realidade, fingir que tudo está bem, quando há fortes evidências de que há problemas, e que eles são graves e não são poucos. Matar o mensageiro poderia funcionar no passado, mas hoje ele será substituído rapidamente e, mais que isso, seu comportamento será copiado por outros. Não apenas no Brasil, mas também no mundo a cultura de mostrar a realidade por meio das redes sociais, com riqueza de imagens, será cada vez mais presente.
Preocupa-me que escolas, que deveriam ser locais de fomento de como usar uma nova tecnologia de modo apropriado, sejam centros anacrônicos. Deveriam estar abertas ao debate, ao questionamento, às novas formas de expressão. E conduzir alunos e dirigentes a aceitar o novo, questioná-lo e torná-lo útil para o país e para o mundo.
Boicotar o novo, inibir a dura realidade dos problemas, cercear aqueles que buscam melhorar a vida das pessoas, é voltar-se para o passado. O que ensinam às nossas crianças e adolescentes? Que fechar os olhos aos problemas é bom? Que se resignar é positivo?
Postado por Profª Marcia Gil de Souza
Coordenadora EM e PV - Curso G9
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