Muito se tem discutido atualmente sobre o comportamento das gerações “Y”, aqueles que completaram 21 anos a partir do ano 2000, e “Z”, nome dado aos nascidos a partir de meados dos anos 90.
Seus integrantes são classificados como consumidores vorazes de tecnologia, senhores de todo e qualquer aparelho eletrônico, altamente egocêntricos e insatisfeitos com o trabalho, mudando de emprego como quem muda de roupa.
Se essas observações são corretas, há dúvidas sobre o futuro de algumas profissões tradicionais e necessárias, como médicos, engenheiros, advogados e... professores.
Avanços tecnológicos sempre provocaram mudanças profundas no comportamento das pessoas. Após a popularização da televisão, acabaram as conversas na calçada; depois dos celulares com música, pouca gente é vista nas ruas sem estar com os fones ligados aos ouvidos. Eventualmente vejo alguém aparentemente falando sozinho e só depois percebo que está usando um “bluetooth” numa ligação telefônica.
Trabalhando com adolescentes e ajudando a prepará-los para os principais vestibulares do país há vários anos (acho que minha geração seria rotulada como “W”, se mantida a sequência), percebo que os alunos realmente vão se diferenciando ao longo do tempo, com dificuldades crescentes de concentração e expressão, notadamente quando têm de interpretar textos ou mesmo quando fazem perguntas em aula. Essas dificuldades talvez possam ser atribuídas à grande quantidade de informação à disposição nos computadores e na própria televisão, além da maneira pela qual essas informações são consumidas e produzidas. No “twitter” podem ser usados, no máximo, 140 caracteres para expressar um pensamento (normalmente fútil) e na tevê não há programa que não seja interrompido a cada 10 ou 15 minutos por intervalos comerciais (exceção feita ao futebol, que, convenhamos, não é a melhor fonte de cultura).
Dessa forma, parece justa a preocupação quanto ao futuro de determinadas profissões. Já imaginou um médico incapaz de se concentrar numa cirurgia por mais do que quinze minutos, um advogado que tenha que defender uma causa usando no máximo 140 caracteres ou, pior, um professor alienado que vive com fones no ouvido o tempo todo?
Não creio num futuro sem médicos, engenheiros e advogados.
Em vez de assumir uma postura pessimista com relação ao futuro desses jovens e temer por essas profissões (me incomoda o nome geração “Z”, pois parece que será a última), penso se não seria o nosso distanciamento em relação a eles que causa essa impressão, pois a cada ano que passa estamos mais velhos, mais resistentes às novas tecnologias, enquanto o adolescente tem sempre a “mesma idade”.
É fato que algumas pessoas dão bons médicos, engenheiros, advogados e professores, mas também é certo que nem todos nascem para a filosofia ou a arte. Não é demais lembrar que entre todos que se formam, alguns são excelentes no que fazem, a maioria não.
Mesmo tendo momentos de desânimo com o comportamento geral, continuo observando adolescentes com grande potencial, que certamente darão bons profissionais em quaisquer áreas. Gostam de ler, escrevem bem, são sensíveis e receptivos aos conhecimentos que transmitimos, especialmente quando conseguimos “tocá-los”. Será que o porcentual desses alunos não é o mesmo de sempre?
Devemos, como professores, procurar mostrar não as desvantagens do mundo moderno, mas as vantagens de manter um pensamento crítico com relação às coisas, de tal forma que usar poucas palavras para se expressar seja uma opção (alguém se lembra de telegrama?) e não a única forma possível de comunicação, que se as informações se sucedem como numa avalanche, a alguém interessa que não exista tempo para muita reflexão sobre o que é divulgado, que a internet é extremamente útil mas que também traz um amontoado de besteiras, que música feita por computador pode ser ótima para dançar, mas nada supera uma sinfonia em riqueza de sons, que a beleza de um texto só pode ser percebida se nos dispusermos a lê-lo com a atenção devida.
Li num artigo que o torcedor fanático por futebol cobra de seu time tudo aquilo que não consegue ser: organizado, disciplinado, ter grande capacidade de improvisação quando necessário e, acima de tudo, possuir garra e amor à camisa. Não estaríamos nós projetando nas gerações atuais nossas próprias deficiências? Afinal, quem é responsável pelo comportamento dos adolescentes?
“Se educarmos as crianças, não precisaremos punir os adultos” – Pitágoras.
Italo Mammini Filho, professor de química do ensino médio e pré-vestibulares.
segunda-feira, 19 de julho de 2010
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Muito pertinente o questionamento feito pelo Prof. Ítalo em seu post.
ResponderExcluirTenho observado nos meios de comunicação uma crescente abordagem ao tema. Infelizmente, na sua grande maioria, o tratamento dado é muito superficial, pessimista, foca apenas rótulos (geração baby boomers, X, Y,Z etc) e orienta a discussão através de parâmetros mercadológicos.
Se entender totalmente uma única pessoa já é uma tarefa hercúlea, então não podemos cair na tentação de tentar caracterizar toda uma geração.
Giovanni Henrique Faria Floriano
Italo, partilho com você a preocupação com as tendências comportamentais e suas consequentes generalizações, que acabam por influenciar as ações educacionais.
ResponderExcluirPenso que a escola deve refletir mais profundamente sobre esse rótulo dado a geração X, Y,Z... e a outros tantos rótulos comportamentais, com os quais caracterizamos os jovens, os profissionais, os professores, não nos deixando levar por correntes, modismos ou aparentes tendências. E, a partir da reflexão, nortear de modo mais realista as abordagens metodológicas feitas em sala de aula.
Parafraseando o prof. Giovanni, diria que caracterizar uma tendência educacional já é trabalho difícil, que dirá toda a sociedade.
Profª Marcia Gil de Souza