Educação Permanente

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terça-feira, 27 de julho de 2010

Resultados do ENEM

Pessoal, no domingo passado,o jornalista Gilberto Dimenstein escreveu a respeito dos resultados do ENEM, sua manipulação por algumas escolas e fez outras considerações sobre educação. Penso que é um artigo que interessa a todos nós. Vale a pena ler.
Folha de São Paulo, 25/07/2010 - São Paulo SP
A melhor notícia da sucessão presidencial
Em começo de campanha, promessas dos candidatos mostram que sabem para onde vento está soprando - GILBERTO DIMENSTEIN
HÁ PERSISTENTES rumores de que determinadas escolas particulares, espalhadas pelo Brasil, estariam fazendo uma seleção de seus melhores alunos para prestar as provas do Enem, influenciando no resultado. As suspeitas sobre o truque fazem sentido do ponto de vista comercial. A boa pontuação aparece na imprensa como sinônimo de porta de entrada para as melhores faculdades e, depois, para os mais cobiçados empregos. Isso se traduz em valor da mensalidade. Há casais que fazem reserva de matrícula antes mesmo de terem filhos. Há pais que preparam as crianças para os futuros -e estressantes- vestibulinhos. O grupo Objetivo, por exemplo, viu-se obrigado a explicar, na semana passada, quando foi divulgada a lista do Enem, que não tinha como meta brilhar no "ranking" ao criar uma escola destinada aos seus melhores alunos, que lhes oferece prêmios de acordo com o desempenho em simulados. Se tivesse garantido a tempo o registro, fazendo valerem as notas, a "nova escola" estaria entre as cinco melhores instituições de ensino do Brasil. Há, nesse debate, um desconhecimento sobre como aferir a qualidade de uma escola. Mas há também a melhor notícia da sucessão presidencial e aí basta analisar as principais promessas dos candidatos.

O desconhecimento é baseado no fato de que boa parte (fala-se em até 70%) do desempenho de um estudante é resultado de fatores externos à sala de aula. Deve-se em geral às suas habilidades naturais -a inteligência, a disciplina e a força de vontade, por exemplo- combinadas com o "background" familiar. Daí se pode avaliar como o "ranking" é impreciso. As melhores instituições têm mais recursos e tendem a atrair as famílias que têm mais dinheiro e são mais atentas à educação dos filhos. Resta saber se tudo isso vai gerar os melhores profissionais, já que o mercado de trabalho tem suas regras próprias de seleção. Algumas escolas de elite criaram um índice, com a ajuda do Datafolha, para saber se seus ex-alunos estão empregados e quanto ganham muito tempo depois de formados. Independentemente da imprecisão, os indicadores criaram transparência e uma saudável competição, levando as instituições particulares a investir em qualidade, o que envolve cifras bilionárias. Depois da compra do Anglo pela Abril, a Pearson, dona do "Financial Times", arrematou, na semana passada, por R$ 900 milhões, o grupo COC. A competição começa a aparecer no setor público -não só entre governos mas também entre escolas. A melhor notícia da sucessão presidencial até agora é que, neste início de campanha, as principais promessas dos candidatos presidenciais estão ligadas ao ensino. É um óbvio sinal de que eles sabem para onde está soprando o vento. Na semana passada, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) divulgou que as mulheres são a maioria do eleitorado. E as pesquisas informam que elas dão mais atenção à educação do que os homens, fenômeno especialmente visível na classe C, em que elas vêm ocupando mais posições como chefe de família e abocanhando melhores empregos. São vários os trabalhos que mostram que, ao entrar no ensino médio, a mulher postergou a gravidez.

Na semana passada, o IBGE informou que o índice de desemprego está em 7%. Seria bem maior se os jovens não estivessem retardando a entrada no mercado de trabalho para ficar mais tempo na sala de aula. Estima-se que, sem isso, o indicador já estivesse acima de 10%. É uma tendência que se acentuará com a aprovação da obrigatoriedade de ir à escola até os 17 anos de idade. São sinais inequívocos de que estamos deixando para trás, embora lentamente, o pior dos dados divulgados na semana passada pelo TSE: 1 em cada 5 brasileiros (27 milhões) não foi à escola ou é analfabeto. Computando os analfabetos funcionais, gente que não entende um texto com um mínimo de complexidade, chegaríamos, pelo menos, à metade do eleitorado. De acordo com o TSE, o país ainda tem mais eleitores analfabetos do que formados numa faculdade. PS- Vale a pena ler o documento elaborado pelo Movimento Nossa São Paulo, divulgado na semana passada, em que são relatadas experiências bem-sucedidas de melhoria da qualidade de vida a partir das cidades. Verdadeiro manual de soluções inovadoras, dedica um capítulo às escolas.
Profª Marcia Gil de Souza

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