Educação Permanente

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segunda-feira, 14 de junho de 2010

Popularização da ciência e Nova Sociedade do Conhecimento

“Ninguém pode orgulhar-se de haver dito a última palavra sobre uma teoria, enquanto não a puder explicar em termos simples a qualquer um que encontre pelo caminho” Gorgonne (matemático do século XIX)

Popularização da ciência e Nova Sociedade do Conhecimento
Assistimos um avanço extraordinário, patrocinado pela ciência e tecnologia, que impactou profundamente a sociedade no século XX e continuará a impactar neste e certamente nos próximos séculos,o que conduzirá ao que muitos autores já prenunciam chamar de “Nova Sociedade do Conhecimento”. Sendo assim, a proposta deste post é discutir, ainda que brevemente, sobre uma possível e necessária popularização da ciência, que vem ganhando força e novos aliados nas diversas instâncias envolvidas com a produção e disseminação do conhecimento, que buscam elaborar e por em prática diversas iniciativas que tentam como objetivo minimizar o crescente afastamento entre ciência e povo.
Quando falamos sobre a necessidade da popularização da ciência, assumimos que a ciência (em especial a ciência clássica desenvolvida entre séculos XVI e XVIII) não é popular e por motivos diversos afastou-se de uma forma um tanto quanto perigosa do domínio público. Ao falarmos de popularização da ciência, também assumimos a premissa que é possível e necessário trabalhar no sentido de vencer o abismo crescente que se instalou entre o conhecimento científico e o povo, em especial entre as classes populares.
Várias questões nos vem a mente quando pensamos neste tema, como por exemplo como se iniciou o processo de afastamento entre o discurso científico e a linguagem popular, ou ainda como podemos chegar a Nova sociedade do conhecimento quando na verdade a maioria das pessoas encontra-se a margem do que se produz e se discuti nas academias e outros lugares de produção de conhecimento. Vem ainda a mente a real necessidade de se popularizar o conhecimento científico e como realmente fazer isso de uma forma eficaz.
Este século tem se glorificado dos inúmeros avanços científico-tecnológicos sem precedentes. As novas tecnologias que tem sido desenvolvidas afim de se aprimorar e criar novos meios e métodos de comunicação têm suscitado oportunidades inimagináveis para a comunidade científica e uma pequena parcela da população. No entanto, por terem sido produzidos sob as bases de uma sociedade capitalista e dividida em classes, a maior parte desses benefícios estão distribuídos de forma extremamente desigual, e certamente continuará assim e se agravará até atingir limites que não conseguimos imaginar.
Em sua dissertação de mestrado, Luisa Massarani afirma que “é possível para o público geral entender os fundamentos básicos da ciência, entender os métodos científicos de pensar, entender a abordagem prática para a investigação científica, entender as relações entre ciência e sociedade, entender as limitações dos cientistas...”.
Esse entendimento não apenas é possível como urgentemente necessário, sobretudo para garantir o mínimo controle social da ciência pela população. Principalmente, considerando que vários encaminhamentos de natureza científica envolvem riscos e custos, além de aspectos simbólico-culturais que deveriam necessariamente passar pelo crivo da maioria do povo. Questões como, produção de alimentos transgênicos, clonagem humana, eutanásia, utilização de células troncos e muitas outras, são exemplos de como um conhecimento mínimo de assuntos pertinentes a ciência e suas aplicações é fundamental para a garantia de uma democracia, pelo menos, representativa e de qualidade razoável. Nesse sentido, é importante fazer as mesmas perguntas de Ennio Candotti, professor da Universidade Federal de Campina Grande e ex-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC): “Tudo que está ao nosso alcance em termos de desenvolvimento e aplicações do conhecimento científico, deve ser realizado? Tudo o que é possível fazer, deve ser feito? Quem deve decidir isso”?
Conforme o professor Candotti, um dos mais sérios problemas enfrentados pela SBPC tem sido a permanente cobrança dos governos em busca de pareceres da comunidade científica sobre questões polêmicas, como o conhecido caso dos transgênicos e da clonagem de seres humanos. Questões que segundo ele deveriam levar em consideração o parecer da maioria da população. No entanto, para poder opinar o povo precisaria dominar um conhecimento mínimo dos assuntos em pauta, o que não é o caso.
A população precisa ver o desenvolvimento científico como sendo um meio de manifestação cultural , e como qualquer outro destes meios, também é patrimônio da humanidade. Seus prejuízos sempre serão divididos igualmente com todos, mas os benefícios estão restritos a apenas alguns. O conhecimento científico é a forma mais eficaz de poder que conseguimos inventar. Não é justo, nem seguro que fique aos cuidados de algumas poucas minorias. Por isso, nós educadores científicos e/ou sociais temos que assumir o compromisso com a popularização da ciência e, unidos, procurar meios de vencer o abismo que há entre o povo e a ciência para então conseguirmos caminhar numa direção na qual tenhamos um novo mundo onde as desigualdades poderão ser minimizadas e a democracia realmente seja uma realidade entre os indivíduos que compõe os diferentes grupos e nações, construindo então uma verdadeira “Nova Sociedade do Conhecimento”.
Para saber mais vale ler:
ALVES, Ruben. Filosofia da ciência: introdução ao jogo e suas regras. 6 ed. São Paulo: Brasiliense, 1985.
CANDOTTI, Ennio, BARROS, Henrique, GERMANO, Marcelo. Mesa Redonda: Os desafios da Popularização da Ciência. Reunião Regional da SBPC, UFCG, novembro de 2003.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984.
MASSARANI, Luisa. A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre a década de 20, Dissertação de Mestrado, Escola de Comunicação, UFRJ, 1998.

Glauber Luz – Professor do Ensino Fundamental II do Curso G9.

Um comentário:

  1. Glauber, esse assunto que você partilhou conosco é uma das angústias que eu, como professora, vivo.
    O analfabetismo crônico da população brasileira e as escassas oportunidades que sempre tiveram para estudar concorreram para esse afastamento entre ciência e povo; a arrogância da escola em se proclamar detentora única do conhecimento , o distanciamento escola X comunidade, dentre outros, também foram fatores desse afastamento.
    Hoje, porém, essas questões estão caindo por terra.
    Penso, pois, que estamos num momento privilegiado para que a ciência se popularize. A escola deve dar os primeiros passos, no sentido de DESENVOLVER PESQUISA a partir dos problemas da comunidade, atuando diretamente junto a ela, agregando valores e resultados. Ao mesmo tempo, deve também construir o conhecimento em sala de aula, usando um SABER ESCOLAR e não um saber científico, fato que sempre tornou as disciplinas distantes dos alunos.
    Enfim, o desafio está proposto. Vamos tentar?

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