Educação Permanente

Educação Permanente

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Debate sobre o ensino médio

Transcrevo parte de uma entrevista do ministro Fernando Hadadd,referente a ENEM, vestibular e outras abordagens do nosso interesse.

O Estado de São Paulo, 08/08/2011 - São Paulo SP
'O fim do vestibular não é o fim do mérito'
O ministro Fernando Haddad (Educação) diz que o Enem ajuda a 'enxugar' o currículo do ensino médio

Lisandra Paraguassu e Rui Nogueira

Admitindo que o ensino médio foi o que menos reagiu às políticas públicas, o ministro da Educação, Fernando Haddad, espera que o Enem promova a racionalização do currículo e os governo estaduais invistam com prioridade. "Sem ufanismo", ele avalia que há uma reação na qualidade do ensino, que deve ser alavancada pelo Plano Nacional de Educação (PNE). O ministro não teme a profusão de emendas feitas pelos deputados, muitas delas preocupadas apenas com reivindicações trabalhistas dos professores. A seguir a íntegra da entrevista ao Estado:
O senhor diz que alguns temas da sua área precisam ser mais explorados e mais bem discutidos. Quais são eles?
FERNANDO HADDAD - O debate sobre educação não tem sido pautado pelas coisas relevantes. Temos três projetos importantes no Congresso sobre os quais eu tive pouco espaço para falar. Primeiro, o Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego), que é pouco noticiado e é um programa da maior importância para o País porque completa as reformas que foram iniciadas. Segundo, a reorganização dos hospitais universitários, cujo projeto de lei foi reenviado com regime de urgência. E, terceiro, o PNE (Plano Nacional de Educação). São três programas da maior importância e eu entendo que temos que falar mais disso. Porque, na nossa opinião, é o mais relevante para o País, sem prejuízo de outras questões que despertam interesse do leitor.

E a profusão de emendas ao PNE?
HADDAD - Esse número de emendas na verdade não assusta, em função de várias razões. Primeiro, o mesmo assunto foi tratado em várias emendas. No caso do financiamento, em mais de 100, por exemplo. Então, se você depurar vai ver que se está tratando de poucos temas e que as emendas não alteram substancialmente as metas, não elevam o número de metas para os patamares dos planos anteriores e trabalham mais com a estratégia, aperfeiçoando as estratégias que o Plano prevê. O Plano está sendo discutido em um momento muito feliz. A OCDE (Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) acaba de lançar um vídeo institucional sobre o Pisa (em português, Programa Internacional de Avaliação de Alunos) em que o Brasil é destaque. É a primeira vez na história que o País se destaca positivamente. Todos os destaques eram negativos. Foi o terceiro país que mais evoluiu no Pisa, o que nos valeu um documentário de 20 minutos que está sendo divulgado no mundo todo.

A aprovação do Pronatec, para ampliação do acesso ao ensino médio, não está demorando? O governo da presidente Dilma já está entrando no oitavo mês?
HADDAD - Está trancando a pauta (na Câmara). E nós não retiramos a urgência justamente porque entendemos que é um projeto prioritário. Porque eu estou convencido que o ensino médio brasileiro, que é o que menos reagiu aos estímulos do Ministério da Educação, depende de medidas que estão sendo tomadas - como, por exemplo, o fim do vestibular, a inclusão do no Fundeb, a extensão dos programas de apoio que eram restritos ao fundamental (alimentação, transporte, livro didático) - mas também de ampliarmos o horizonte do jovem. Precisamos ter um segundo turno que permita ao jovem diferenciar seu currículo. Primeiro, ter um currículo mais inteligente no primeiro turno, menos sobrecarregado de conteúdos que ele jamais vai utilizar. É um enxugamento que o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) pretende promover e já está promovendo. O segundo movimento é um segundo turno que é direcionado para a cultura, o esporte e o trabalho. Se promovermos esse movimento a partir do Pronatec, com as medidas que já estão implantadas, vamos ressignificar essa etapa de ensino e permitir ao jovem que não deseja ou não está vocacionado para educação superior concluir a educação básica com condições de pleno exercício da cidadania.

Por que o ensino médio foi o que menos reagiu a essas políticas públicas?
HADDAD - Primeiro porque ele recebe menos atenção dos governos estaduais. Segundo, porque o Ensino Fundamental precisava reagir primeiro. Não havia como melhorar o Médio sem melhorar antes o Fundamental. Terceiro, por falta de um equivalente da Prova Brasil no Ensino Médio, que é um papel que o Enem vai cumprir. E quarto, porque precisamos, a partir do Ensino Médio, promover uma reforma que faça com que a escola responda às expectativas dos estudantes, e não só o estudante às expectativas da escola. Por isso essa diferenciação do currículo com um primeiro turno mais inteligente e um segundo turno mais abrangente do ponto de vista das possibilidades de desenvolvimento intelectual. Essa mudança é que vai completar a reforma dessa etapa.

Inicialmente, uma das fontes pensadas pelo MEC para o Pronatec era o dinheiro do "Sistema S". Como ficou o resultado dessa discussão?
HADDAD - Está prevista em lei a bolsa formação para estudantes do Ensino Médio que vão poder ou fazer o segundo turno em uma escola pública ou nas escolas do Senai e Senac. São duas questões. A do acordo, que vai até 2014, que prevê que 2/3 das verbas de contribuição compulsória sobre a folha de pagamentos seja destinada à gratuidade. Esse acordo vem sendo monitorado e está sendo cumprido. Paralelamente, há uma espécie de duplicação do "Sistema S", que tem outro foco, não exclusivo no trabalhador, mas nos estudantes de Ensino Médio, que nós pretendemos integrar ao Pronatec.

Mas, além disso, havia a questão de uma dívida do "Sistema S" com o governo federal por conta do recolhimento de recursos do salário-educação que foram repassados indevidamente ao Sistema. O MEC falava em usar esses recursos para o Pronatec, transformados em bolsas além do que já deveria ser gratuito por lei.
HADDAD - Isso não está dentro do Pronatec porque está sendo cuidado pelo Tesouro Nacional e pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Isso não é da nossa alçada.

Um dos pontos que o sr. destaca para a melhoria do ensino médio é o fim do vestibular. O que há de meritório no fim ao vestibular?
HADDAD - As pessoas às vezes misturam dois debates diferentes. O fim do vestibular não significa o fim do processo seletivo ou o fim da meritocracia para o acesso à educação superior. Ao contrário, reforça a meritocracia. Segundo, nós estamos sintonizando o Brasil com os melhores sistemas do mundo. Os sistemas universitários chinês, americano, francês, alemão, não têm esse expediente de cada instituição fazer o seu processo seletivo, porque isso causa disfuncionalidades de toda ordem no sistema, com a sobreposição de conteúdos cobrados que acabam se transformando num mega currículo intransponível para a escola em três anos. É uma questão de racionalização e reorganização curricular. Se formos considerar um modelo que me parece o mais adequado eu penso que é o do SAT americano, porque permite que o estudante faça o teste mais de uma vez por ano e se valha da melhor nota em um período de tempo para oferecer à instituição na aplicação para uma vaga. Eu entendo que estamos, com essa reforma, dando uma chance real para o Ensino Médio se reorganizar em bases racionais e lógicas. E, na verdade, haverá um reforço da questão do mérito. Porque você morando em qualquer estado americano, se obtém um bom resultado no SAT, disputa uma vaga em Harvard. E ninguém lembra de Harvard como uma instituição do estado onde ela se encontra. É uma instituição, aliás, aberta para o mundo. Boa parte dos seus estudantes não são americanos.Então, na perspectiva de dar mais robustez para o nosso sistema universitário, eu penso que a seleção em bases nacionais é o que vai promover a convergência de talentos, inclusive por área. Determinadas universidades vão se desenvolver e atrair alunos para determinadas áreas, outras vão se desenvolver em outras. No fim, vai consolidar um sistema que está em expansão, mas precisa se qualificar.

O novo Enem já teve duas edições. O ministério já conseguiu verificar alguma diferença no currículo do ensino médio? Já houve alguma mudança significativa nesse enxugamento que o senhor diz ser necessário?
HADDAD - Eu tenho conversado com professores do ensino médio. A última conversa que tive foi com um professor de Cocal dos Alves (PI), que foi destaque este ano e é recordista de premiação na olimpíada de matemática. Nas palavras dele, o Enem mudou a escola. Eu tenho ouvido muito isso, especialmente daqueles professores muito comprometidos. Os cursinhos estão mudando, está todo mundo se mexendo. É sempre uma questão de ritmo. Em um universo de quase 200 mil escolas a adaptação a um novo regime não é simples.

O Programa Universidade para Todos (ProUni) cresceu muito nos últimos anos, mas nem todos os cursos podem ser considerados de boa qualidade ou mesmo de qualidade razoável. Não há aí um risco de financiamento da mediocridade?
HADDAD - A faculdade ruim não serve nem para o bolsista muito menos ainda para o pagante, que faz um esforço enorme para se formar. Então nós estamos procurando suspender processos seletivos, diminuir vagas de ingresso. Começamos por áreas muito estratégicas - medicina, direito e pedagogia - e já fechamos muitos cursos. Só de medicina já cortamos 800 vagas, mais de 8% das disponíveis. Isso em um País que precisa de mais médicos. A questão da qualidade precisa ser enfrentada. Mas não há como negar que, a partir do momento que se contempla 1 milhão de jovens - vamos fechar esse ano com 1 milhão de beneficiários no ProUni -, na média a vantagem para o jovem de escola pública de baixa renda é inquestionável. Nós estamos mudando a vida de muitas pessoas que não teriam outra oportunidade. É uma rede mais capilarizada que as universidades públicas e até por essa razão...

O MEC tem enfrentado problemas recorrentes de administração. Foi o furto das provas do Enem, os problemas do cabeçalho nas provas seguintes. Agora, recentemente, a cartilha em que o resultado de 10 menos 7 é igual a 4. Como esses erros passam?
HADDAD - É sempre lamentável quando acontece um erro de revisão. Mas o MEC trabalha com quase dois mil títulos. Então, do mesmo jeito que no governo Fernando Henrique Cardoso o Ceará sumiu do mapa, no governo Serra, em São Paulo, outro Paraguai apareceu no mapa. Acontece. Não estou com isso querendo justificar o erro. Tanto é que talvez essa tenha sido a primeira vez que um ministro tenha pedido apoio da CGU (Controladoria-Geral da União) para avaliar o que aconteceu exatamente nesse processo. Nós tomamos as providências cabíveis, reunimos as pessoas que estão usando o livro para fazer as correções devidas. É uma coisa que, infelizmente, acontece, e nós temos que tomar providências para aperfeiçoar o processo. Veja que estamos com o triplo de orçamento com a mesma estrutura. É um ministério que hoje responde pelo quarto ou quinto orçamento do País com a mesma estrutura. O volume de trabalho é muito grande. Isso não justifica, tem que ser apurado, mas em um grande volume de livros e títulos isso pode acontecer. Não deve, mas pode. E eu poderia citar aqui dezenas de falhas de revisão que, infelizmente, às vezes passam. O importante de responsabilizar e apurar é passar uma mensagem para o serviço público em geral que estamos lidando com coisas muito importantes e que esses descuidos não são aceitáveis. Não tive notícia de ninguém ter tomado providências tão duras quanto eu tomei nesses outros episódios que eu citei. As coisas não foram apuradas até fim.

O Enem era um exame de avaliação e passou a ser, na prática, um vestibular nacional. Isso não explica os erros (na impressão e logística) que tumultuaram os últimos exames?
HADDAD - Em relação ao Enem, ele se tornou o que é com o ProUni. Não foi com a reformulação da prova. Com o advento do ProUni nós tínhamos 1 milhão de inscritos e passamos a 3 milhões de inscritos. O grande salto aconteceu em 2005. O que entendemos naquela ocasião: o Enem está preparado para vir a ser o que é o SAT (prova americana). Desde 2005 esse debate vem sendo feito no Brasil. Ocorre que o Enem - e com isso não vai nenhum demérito da proposta original, que teve a melhor das intenções - simplesmente não era aceito pelas universidades de ponta. Porque era considerada uma prova muito fraca. Uma prova completamente insuficiente para o propósito de substituir o vestibular. Em segundo lugar, ele não estava ajustado à Teoria da Resposta ao Item (TRI, que permite comparar provas de anos diferentes). Então, quando o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) traz a proposta de reformular o exame para que ele atenda a esses propósitos a questão da logística já estava equacionada desde 2005, aos olhos do Inep. O Inep não colocou essa questão logística como um ponto importante na hora da tomada de decisão. Colocou a questão pedagógica.

E essa eu penso que o tempo provou que estava correta a mudança. É óbvio que o abalo que o Inep sofreu com a questão do furto teve repercussão no tempo. A logística já vinha sendo tratada desde 2005. O Enem já tinha 3 milhões de inscritos naquela ocasião. Fomos para 4 milhões. De 1 milhão para 3 milhões é uma mudança de patamar. De 3 para quatro milhões é uma evolução quase que natural. Agora, na minha opinião, o equívoco foram as ameaças constantes que o Inep sofria, e sofreu mesmo depois desse episódio, de ser obrigado a licitar o exame. Nenhum vestibular que é uma fração diminuta do Enem faz isso. O maior vestibular do Brasil, que é a Fuvest, representa 2 a 3% do tamanho do Enem. E o grande ponto ali é que, a cada momento que o Inep dizia que não tinha condições de contratar por menor preço por tudo que a operação envolvia, o Inep era ameaçado, inclusive através dos jornais. Esse nó que foi desatado. Naquela ocasião, como nunca apareceu um novo player na licitação, o Inep preferiu não enfrentar o debate com os órgãos de controle e, antes da edição de 2009, promover a mesma licitação que havia sido realizada nos anteriores 13 anos, na confiança de que aconteceria o mesmo que aconteceu. Então, se houve um erro, foi o de não ter, às vésperas daquele exame, ido ao encontro dos tribunais e órgãos de controle e ter explicitado: "Olha, não é possível fazer dessa maneira, nós estamos fazendo dessa maneira porque só tem um concorrente". Mas já é um faz de conta essa licitação porque não há pessoas habilitadas a promover um exame dessa escala. Então nós estamos aqui correndo um risco desnecessário. Vamos dar toda transparência à contratação, mas vamos fazer o que a USP faz. Tem uma fundação que cuida do seu vestibular e ela acumula conhecimento. Eu entendo que é esse ponto. E é óbvio o impacto que o furto teve. Não foi contratada nenhuma gráfica de fundo de quintal. Foi contratado o maior parque gráfico do País. Que no dia do roubo soltou uma nota dizendo que não havia sido ali, porque eles tinham todas as condições de segurança. Então a própria gráfica tinha segurança de que as suas condições de segurança estavam observadas. E isso foi o que o Inep viu.

O Enem só era usado por algumas universidades particulares, para 300 e poucas mil vagas do ProUni. De repente, ele passa a ser usado pelas universidades federais, que sempre tiveram a maior concorrência, o maior interesse. A importância do Enem passou a ser maior. Tanto que houve um furto. Ninguém tinha se interessado em furtar a prova do Enem antes.
HADDAD - Até hoje está um pouco mal explicado esse episódio do ponto de vista do que pretendia de fato aquele cidadão (que furtou a prova). Porque não era ganhar dinheiro, aparentemente. Alguém que se expõe tanto...

Profª Marcia Gil de Souza
Coordenadora do Ensino Médio

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

ANESTESIA:

Conhecendo um pouco mais sobre uma das maravilhas do mundo moderno.


Se muitos de nós já passaram por alguma cirurgia, é quase certo que todos já estivemos numa cadeira de dentista. Sabendo que antigamente um bom cirurgião é o que operava rápido e que os anfiteatros de cirurgia nos primeiros hospitais ficavam na parte mais alta e isolada dos edifícios – as famosas cúpulas – pois os gritos de dor eram garantidos, devemos agradecer ao desenvolvimento das drogas e técnicas que permitem que desde uma simples extração dentária até uma complexa cirurgia possam ser realizadas sem que sintamos dor.

Enquanto os chineses se beneficiavam da acunpuntura, em 2000 aC, quase mil anos mais tarde os assírios comprimiam a carótida do paciente até que esse desmaiasse. Os incas peruanos mascavam folhas de coca e depois despejavam a saliva sobre as feridas dos doentes para anestesiá-las. Já no século I dC, Discorides de Anazarba, médico grego que serviu ao exército romano, utilizava a chamada esponja sonífera. Preparada à base de ópio e outras substâncias (entre elas o vinho), era colocada sob as narinas de seus pacientes para que adormecessem. Para acordá-los, outra esponja embebida em vinagre dava conta do trabalho. Atribui-se a Discorides o emprego da palavra anestesia, que significa “ausência de sensações”

Na Europa medieval era usada a técnica da concussão cerebral, em que a cabeça do paciente era protegida por uma tigela de madeira (será essa a origem do capacete?) e essa última era golpeada até que o infeliz desmaiasse – o crânio, porém, supostamente ficava intacto. Isso ocorria porque, segundo a cultura(?) cristã medieval, o uso de qualquer erva ou outras substâncias químicas para controle da dor podia ser considerado como bruxaria ou magia negra, já que a doença, a dor e o sofrimento eram vistos como castigos divinos para a purificação da alma.

Misturando-se o óleo de vitríolo, termo alquímico para o ácido sulfúrico, com o álcool etílico, obtém-se uma substância de odor e sabor adocicados. Chamado de óleo doce de vitríolo, foi provavelmente obtido já no século VIII e sua síntese descrita no século XVI. Hoje os alunos do ensino médio estudam essa reação – desidratação intermolecular de álcoois – e reconhecem o produto formado com o nome de éter dietílico (em farmácias ele é vendido com o nome de éter sulfúrico). Paracelso, médico e aquimista suiço, observou os efeitos anestésicos do éter ao administrá-los às suas galinhas e vê-las adormecerem.

No início do século XVIII, o médico Georg Stahl, procurando explicar o fenômeno da combustão, elaborou uma teoria que admitia que todas as substâncias que se queimam tem em comum um elemento: “o flogisto”. No final desse mesmo século, Antoine Laurent Lavoisier derruba a “teoria flogística” e dá grande contribuição à compreensão da fisiologia respiratória. Em 1800, o aprendiz de farmácia Humphry Davi inalou a substância óxido nitroso (N2O) e teve uma sensação muito agradável, chegando mesmo a “cair na gargalhada”. Graças a esse episódio, a substância que havia sido descoberta em 1776 pelo cientista inglês Joseph Priestley recebeu o nome de gás hilariante. Davi recomendou que ela fosse usada em cirurgias, já que possuía a propriedade de acalmar as dores físicas. Cerca de vinte anos mais tarde, Michael Faraday escreveu que a inalação do éter dietílico produzia efeitos calmantes semelhantes aos produzidos pelo óxido nitroso. Infelizmente, essas duas substâncias ganharam fama apenas em exibições circenses, nas quais espectadores eram chamados ao palco, inalavam o gás e punham-se a rir e dançar para deleite da plateia. Também eram comuns reuniões em que os participantes inalavam o éter (“folias do éter”) e o óxido nitroso (“festas do gás do riso”) para saborear seus efeitos – a humanidade se droga desde tempos imemoriais...

Há relatos dizendo que em uma dessas festas, o médico americano Crawford W. Long sentiu na própria pele os efeitos anestésicos do éter, ao se machucar e não sentir dor. Em 30 de março de 1842, removeu dois cistos do pescoço de um paciente após fazê-lo inalar éter.

Assistindo a uma apresentação de um circo, Horace Wells, um dentista americano, observou que um dos participantes sob a ação do gás hilariante sofrera um extenso ferimento na perna e não demonstrara qualquer sinal de dor. No dia seguinte, pedindo ao administrador do circo que o deixasse inalar o óxido nitroso, Wells teve um de seus dentes arrancado por um colega. Testou várias outras substâncias, inclusive o éter dietílico, para verificar os efeitos anestésicos de diversos gases (e, é claro, não extraiu todos os próprios dentes para isso). Escolhido o melhor, aprendeu a preparar e administrar o óxido nitroso a seus pacientes, conseguindo realizar várias extrações dentárias indolores, na pequena cidade de Hartford, em Connecticut, nos Estados Unidos.

Tentando mostrar ao mundo suas descobertas, Wells contratou um ex-aluno seu, William Thomas Green Morton (será que vem daí o nome daquele “guru” de Pouso Alegre - Rá?), que estava matriculado na Harvard Medical School, em Boston. Ao fazer a demonstração das propriedades anestésicas do gás hilariante num paciente, Wells provavelmente administrou uma dose menor do que a necessária, expondo a paciente à dor e Wells ao ridículo. No entanto, quase dois anos depois, já familiarizado com as propriedades do óxido nitroso assim como às do éter, Morton realizou com sucesso e no mesmo lugar do fracasso de seu ex-professor – nunca subestime um aluno – uma anestesia com inalação de éter dietílico para a retirada de tumores no pescoço de um jovem. O médico que realizou a cirurgia também estava presente na fracassada demonstração de Wells e se rendeu às evidências, proclamando que a anestesia não se tratava de uma fraude.

O substituto do éter, o clorofórmio, foi usado pela primeira vez em 1847 por um obstetra, James Simpson, ao realizar os procedimentos de um trabalho de parto. A própria Rainha Vitória solicitou os serviços desse obstetra, quando do nascimento de seus dois últimos filhos, Leopoldo e Beatriz. Livres das culpas cristãs e mais preocupadas com o próprio bem-estar, as mulheres acolheram imediatamente o clorofórmio. Naturalmente, qualquer problema que ocorresse com a criança recém-nascida era atribuído a uma punição divina aos males causados pelo “Doutor Clorofórmio”.

Atualmente, diversas substâncias são usadas para se obter os efeitos de anestesia, que pode ser geral, regional, local, por bloqueio de nervos periféricos e de sedação. As possibilidades são tantas e tão variadas que uma especialidade médica já existe há algum tempo – a anestesiologia.

Mesmo envolvendo riscos, (não podemos esquecer que Medicina não é uma ciência exata e é conduzida por seres humanos, portanto passíveis de cometer erros), podemos comparar uma anestesia a uma viagem de avião: a razão entre o número de acidentes e o número de eventos é tão pequena, que ninguém deixará de voar nem pedirá para fazer uma extração dentária “a seco” por medo de receber uma droga anestésica.

Italo Mammini Filho, professor de química do ensino médio e pré-vestibulares.

Fontes de consulta:
“O alvorecer da anestesia inalatória”
Ricardo Jakson de Freitas Maia, Cláudia Regina Fernandes
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-70942002000600015&script=sci_arttext
“História da anestesia”
http://apavet.com.br/media/historiaanestesia.pdf

terça-feira, 12 de julho de 2011

Discalculia

O Estado de São Paulo, 11/07/2011 - São Paulo SP

Doença que dificulta aprendizado de matemática é alvo de especialistas
Neurologistas, pedagogos e psicólogos chamam a atenção para a discalculia do desenvolvimento, enfermidade análoga à dislexia, mas que afeta operações com números; estudos apontam que 6% da população mundial sofre com o transtorno
Alexandre Gonçalves
Cerca de 6% da população mundial sofre de discalculia do desenvolvimento, transtorno neurológico que dificulta o aprendizado da matemática. A incidência é praticamente a mesma da dislexia, problema análogo - bem mais famoso - relacionado à leitura e à escrita. Pesquisadores brasileiros e estrangeiros querem trazer a discalculia do desenvolvimento para a ordem do dia. Há poucas semanas, uma das principais revistas científicas do mundo - a Science - publicou um artigo sobre a doença. O texto recordava perdas sociais e econômicas para comprovar a gravidade do problema. Na Grã-Bretanha, por exemplo, estimou-se em R$ 6 bilhões os custos anuais do mau desempenho matemático entre os ingleses. O trabalho também apontava o caráter de transtorno negligenciado da discalculia. Desde 2000, a doença mereceu R$ 3,6 milhões em pesquisas do governo americano. No mesmo período, a dislexia recebeu quase R$ 170 milhões. "E há trabalhos que mostram que o impacto da discalculia é, pelo menos, tão grande quanto o da dislexia", diz Vitor Haase, do Laboratório de Neuropsicologia do Desenvolvimento da UFMG. "Mas há uma questão cultural: as pessoas não valorizam tanto a importância da matemática quanto a de ler e escrever."

Contextos. Para que uma criança seja diagnosticada com discalculia do desenvolvimento, é necessário comprovar que sua dificuldade no aprendizado da matemática não nasce de uma deficiência intelectual - que comprometeria outras áreas do conhecimento - ou de problemas afetivos. Também deve ser descartada a hipótese de que condições sociais concretas - como um ambiente de vulnerabilidade em casa ou na escola - bastariam para explicar o transtorno. José Alexandre Bastos, chefe do serviço de Neurologia Infantil da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp), sublinha que os diagnósticos da discalculia do desenvolvimento são sempre feitos por uma equipe multidisplicinar que costuma incluir um neurologista, um neuropsicólogo, um pedagogo e um fonoaudiólogo. "Vale a pena lembrar o impacto do transtorno em reprovações, abandono escolar, bullying, além de prejuízos à autoestima da criança", afirma a coordenadora do Laboratório de Neuropsicologia da Unesp de Assis, Flavia Heloisa dos Santos. Há vários anos pesquisando o tema, Flavia descobriu que a música pode ser uma poderosa ferramenta para a reabilitação neuropsicológica de crianças com o problema.

Terapia. O tratamento da discalculia não envolve drogas, mas treinamento matemático. Só nos casos em que a criança tem transtorno de déficit de atenção e hipertatividade (TDAH) o médico costuma receitar algum medicamento. "Mas é para tratar o TDAH", afirma Bastos. "Cerca de 40% das pessoas com dislexia e discalculia tem TDAH." Casos concomitantes de dislexia e discalculia também são comuns. Sheila Guerra, de 11 anos, é um exemplo. Como reforço à escola, ela estuda matemática e português em uma unidade que aplica o método Kumon, em Belo Horizonte. Lá, realiza o treinamento necessário para superar as duas condições. Conta com o acompanhamento da psicopedagoga Miriam Moraes, que afirma que ela deve superar a discalculia em até um ano. Ruth Shalev, do Centro Médico Shaare Zedek, em Israel, publicou trabalhos comprovando que 47% das crianças que tratam a discalculia conseguem superar o problema. Mas o estudo mostrou que a taxa de sucesso cresce com o diagnóstico precoce.

PARA ENTENDER: "Discalculia não é dificuldade para fazer cálculos complexos", diz o neurologista José Alexandre Bastos. "É a incapacidade de lidar com operações triviais." Os problemas ocorrem em três campos: compreensão dos fatos numéricos (adição, subtração, multiplicação e divisão simples), realização de procedimentos matemáticos (como divisão de números grandes ou soma de frações) e semântica (compreensão da linguagem usada para formular problemas). Ao minar os fundamentos, a discalculia impede a aquisição de conhecimentos mais complexos.

Postado por Profª Marcia Gil de Souza
Coordenadora do Curso G9

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Reflexão socio-filosófica sobre o bullying

Quando não há vínculos, há o bullying

Atualmente, é recorrente no meio escolar a preocupação com um fenômeno bastante antigo, mas de conceituação recente, o bullying. Este artigo aborda o bullying como consequência de um processo de desvinculação humana promovido pela estrutura econômica acompanhada pelas novas tecnologias de comunicação, sem a pretensão de ser mais uma problematização dos efeitos desta prática no processo de ensino-aprendizagem e de formação e autoafirmação do indivíduo, promovidos pelo ambiente escolar. Para tanto, primeiro, definiremos o que entendemos por vínculo.
O vínculo é algo que sempre norteou a existência humana. Os primeiros hominídeos surgiram em um ambiente extremamente hostil, eram animais que estavam se deslocando de um estilo de vida nas árvores, para um nas savanas, portanto não eram realmente adaptados, nem para um nem para outro; eram animais frágeis, não possuíam grandes mecanismos de defesa, não possuíam garras, chifres, presas, veneno ou qualquer outro tipo de proteção, inclusive sua estatura era muito convidativa a ataques de predadores. É incrível pensar que este mesmo animal iniciou um processo evolutivo que o levaria ao topo da cadeia alimentar. Mas como?
Mesmo sendo impossível dar uma resposta definitiva para este questionamento, podemos ao menos levantar os fatores que contribuíram para esta escalada evolutiva. Dentre eles daremos destaque à capacidade humana de estabelecer vínculos.
O vínculo é um sentimento “de fazer parte”, que surge das relações sociais (institucionais ou não) e é expresso pela adesão do indivíduo aos valores do grupo. A sociologia entende o homem como um ser social, o que significa afirmar que só possuímos as qualidades do que consideramos “humano” quando vivemos em sociedade. Temos vários casos de pessoas que foram privadas do convívio social e desenvolveram comportamentos não aceitáveis pela sociedade como, por exemplo, o de Kaspar Hauser (Alemanha - século XIX) e o das irmãs Amala e Kamala (Índia - século XX). São as relações humanas que produzem os valores, ou seja, as ideias que dão significado às nossas ações. Ao conjunto de valores produzidos e reproduzidos por um povo damos o nome de cultura. A cultura, portanto, não é algo estático, pelo contrário, é uma eterna construção, o que nos faz afirmar que os valores de uma sociedade são históricos, dialogam com o espaço e o tempo.
Igualmente, a história é outro produto humano, a consciência da ação de seu grupo sobre o meio e o relacionamento dele com outros grupos ao longo do tempo é o motor do processo de formação de identidade, ou seja, de reconhecimento de sua história e de sua cultura. Fica claro, portanto, a importância do vínculo para a existência não só de uma identidade social, mas também de uma identidade individual, pois o indivíduo só tem consciência de si em oposição ao coletivo. Sendo assim, não seria exagero afirmar que a perda dos vínculos é algo que põe em risco a sociedade.
E afinal, onde se encaixa o bullying nesta reflexão? Simplesmente ele é o mais novo fenômeno desencadeado pelo sentimento “de não fazer parte” típico do processo de desvinculação. O foco deste problema deve ser, então, mais o porquê de hoje observarmos um aumento na ocorrência deste processo, do que os efeitos deste tipo de comportamento para o funcionamento social.
O processo de desvinculação do homem não é recente e, aliás, sempre existiu, pois seria ilusão acreditar que os valores de uma sociedade são aceitos unanimemente pelos indivíduos, a novidade é que a contemporaneidade intensificou este processo ao ritmo de uma progressão geométrica, efeito das estruturas adotadas pelo sistema capitalista.
Segundo Karl Marx, o capitalismo desumaniza o homem através do que conceituou como alienação do trabalho. Para o autor, o capitalismo reduziu a sociedade a duas classes: a burguesia, detentora dos meios de produção (terra, ferramentas, técnicas, matéria-prima); e o proletariado, detentor da força de trabalho. Como não possuem meios de produção, os proletários são obrigados a vender sua força de trabalho à burguesia, a alta oferta de mão de obra, por sua vez, diminui seu valor. Por fim, o salário recebido é baixo e raramente suficiente para garantir ao trabalhador o produto final de seu trabalho. Assim, no sistema capitalista, muitos são obrigados a viver em condições subumanas, o homem é privado de sua liberdade e a sociedade deixa de fazer sentido. Quebra-se assim o vínculo.
Mas não é apenas a estrutura produtiva a quem podemos responsabilizar, a questão se apresenta também como um problema ético-comportamental. Sob a perspectiva de outro teórico, Max Weber, o espírito capitalista contém muito do individualismo característico da ética protestante, outro componente contrário à identificação e ao vínculo. Mas o que realmente vamos problematizar é o desenvolvimento das tecnologias da comunicação e os efeitos que acarretam ao vínculo social.
A história das tecnologias da comunicação se relaciona de maneira direta com o capitalismo. Da invenção da escrita (4000 a.C.) até o Renascimento, não houve muitos progressos no que diz respeito às tecnologias de comunicação, as inovações se deram a partir da era Moderna. A invenção da prensa por Gutenberg significou algo semelhante à invenção da internet em nossa era; salvaguardadas as devidas proporções, a consequência foi uma dinamização no processo de produção e circulação de informações. Mas o efeito daquela invenção foi exatamente contrário aos de hoje: estimulou o vínculo social. Foi somente com o resgate dos valores e saberes clássicos promovidos pelo humanismo que pôde se desenvolver na Europa a ciência e a filosofia moderna.
Na filosofia, a modernidade foi marcada pelo Iluminismo, corrente de pensamento que trouxe a preocupação com o social, entendia o homem como um ser naturalmente bom, mas que sem a devida orientação e controle, tendia a ser corrompido por experiências ruins, daí a necessidade de promover à sociedade um maior controle. De fato, a sociedade como a conhecemos hoje, deve muito ao Iluminismo, ideias como os direitos inalienáveis (propriedade, liberdades individuais e isonomia), a organização política baseada no sistema de representatividade, a estrutura do Estado dividida entre os poderes executivo, legislativo e judiciário, e o papel da educação como formadora do indivíduo e de cidadania. Fica patente a contribuição do Iluminismo para a formação do vínculo social, uma vez que incutiu na mentalidade humana valores que estreitaram o compromisso do homem pelo próprio homem.
Entretanto, com a revolução industrial, o mundo começa a se transformar de maneira drástica, as fronteiras naturais e culturais começam a ser transpostas pelo advento de novas tecnologias: energia elétrica, automóveis, telégrafo, telefone, rádio, cinema. Processo intensificado no século XX, cuja grande inovação talvez seja os veículos de comunicação de massa. A televisão, comunicação por satélites, os portáteis (telefonia móvel, computadores, GPS) e a internet, a maior de todas as revoluções. Nunca na história da humanidade se produziu e reproduziu tanta informação, mas além de um maior contato entre os povos e culturas, este processo trouxe várias espécies de intolerância, o ultranacionalismo, o genocídio e o racismo.
Atualmente, esses meios atuando em conjunto criaram um mundo literalmente paralelo, o mundo virtual. O que se percebe é que cada vez mais o homem vem se tornando dependente dessas tecnologias, ao ponto de nossas relações interpessoais estarem sendo intermediadas excessivamente por elas. Some a isto a já mencionada alienação, o individualismo, os problemas sociais e a intolerância, o resultado em nossa sociedade é o enfraquecimento do vínculo humano. A falta de contato ente os indivíduos é preocupante, pois somente ela poderia resgatar os valores necessários para frear esste processo e promover a identificação entre os indivíduos.
O fenômeno chamado bullying se enquadra perfeitamente nessa problemática e sua abordagem excessiva acaba por contribuir ainda mais para sua ocorrência. As novas gerações, precoce e totalmente integradas às novas tecnologias, se isolam cada vez mais do contato humano e, quando este acontece, muitas vezes é conflitante, pois, pelo pouco contato, há baixa tolerância às diferenças. Não acreditamos que não exista o bullying, mas sim que sua supervalorização torna problemas corriqueiros de relacionamento, que os indivíduos são obrigados a superar, um “crime”. Quando isso acontece, o problema acaba envolvendo autoridades: pais, professores e, em casos extremos, até mesmo o sistema judiciário, o que nos torna cada vez mais dependentes de intermediações para nossos relacionamentos.
Cabe, por fim, às instituições sociais e autoridades correspondentes, ficarem atentas ao bullying, para que saibam não apenas intervir menos nas relações interpessoais, para intervir melhor quando realmente necessário, caso contrário, estaremos banalizando não só o fenômeno em si, mas principalmente as relações humanas.

Artigo produzido pelo prof. de Sociologia Petrus Ferreira Ricetto - Curso G9

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Bullying nas escolas

Penso que a notícia abaixo interessa a todos. Boa leitura!

Senado aprova projeto que responsabiliza escolas por bullying
A Comissão de Educação do Senado aprovou no dia 14/06 o projeto de lei - de autoria do senador Gim Argello (PTB-DF) - que responsabiliza as escolas, públicas ou privadas, por episódios de bullying. A proposta foi aprovada em caráter terminativo e seguirá agora para apreciação da Câmara dos Deputados.
O senador quer que os estabelecimentos de ensino fiquem incumbidos de inibir situações em que os estudantes estejam expostos a agressões de colegas. Além disso, o texto aprovado prevê que as escolas devem garantir um ambiente seguro e prevenir o bullying.
Caso também seja aprovada na Câmara, a matéria deverá ser incluída na Lei de Diretrizes e Bases da Educação.
O bullying é caracterizado, na maior parte dos casos, por agressões físicas e verbais e perseguições de colegas a alunos. Em alguns casos, a vítima desenvolve depressão, perde o interesse pelos estudos e chega a abandonar a escola.

Vejam a legislação na íntegra:
SENADO FEDERAL
PROJETO DE LEI DO SENADO Nº 228, DE 2010
Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da educação nacional), para incluir entre as incumbências dos estabelecimentos de ensino a promoção de ambiente escolar seguro e a adoção de estratégias de prevenção e combate ao bullying.
O CONGRESSO NACIONAL decreta:
Art. 1º O art. 12 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescido do seguinte inciso IX:
“Art. 12. ......................................................................................................................................................
.......................................................................................
IX – promover ambiente escolar seguro, adotando estratégias de prevenção e combate a práticas de intimidação e agressão recorrentes entre os integrantes da comunidade escolar, conhecidas como bullying.” (NR)
Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
JUSTIFICAÇÃO
O fenômeno do bullying vem ocupando espaço crescente entre as preocupações de educadores, pais e atores políticos. O termo em inglês, consagrado na literatura, refere-se a um conjunto de práticas recorrentes de intimidações e agressões, perpetradas sem motivação aparente contra uma mesma vítima. Assim, caracteriza-se como bullying extenso leque de comportamentos violentos observados sistematicamente nas escolas – e também em outros ambientes sociais, como prisões, quartéis e até mesmo ambientes de trabalho. Entre as manifestações desses comportamentos incluemse: insultos, intimidações, apelidos pejorativos, humilhações, amedrontamentos, quebra de pertences, isolamento, assédio moral, além de violência física propriamente dita.
Os efeitos do bullying são deletérios, causando enorme sofrimento às vítimas. Isso é ainda mais grave quando se trata de bullying nas escolas, por afetar indivíduos de tenra idade, cuja personalidade e sociabilidade estão em desenvolvimento.
Além disso, a vulnerabilidade das vítimas costuma ser acentuada pelo fato de apresentarem alguma característica que as torna “diferentes” da maioria dos alunos justamente o que as faz alvos preferenciais dos praticantes do bullying.
Embora os estudos sobre o problema sejam relativamente recentes, alguns amplos consensos já se estabeleceram entre os especialistas sobre as melhores formas de prevenir e combater o bullying nas escolas. A conscientização da comunidade escolar, o desenvolvimento de estratégias adaptadas a cada estabelecimento de ensino e o protagonismo dos próprios alunos nesse processo são alguns deles.
Do ponto de vista da legislação brasileira, embora o bullying não seja especificamente abordado, várias são as normas que, de maneira indireta, aplicam-se a ele. Entre elas, destacamos o próprio texto constitucional, em diversos dispositivos do art. 5º, que enumera os direitos e deveres individuais e coletivos, e também no art. 227, que trata do dever da família, da sociedade e do Estado de assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
Da mesma forma, vários artigos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), disposto na Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, podem ser invocados no combate ao bullying. Entre eles, incluem-se os arts. 3º, 4º, 5º, 15, 16, 17, 18, 56 e 70. Nos casos que chegam à Justiça, podem aplicar-se os dispositivos relativos à prática de atos infracionais e às medidas de proteção e socioeducativas correspondentes (arts. 98-130).
O art. 232, por sua vez, que define como crime “submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou constrangimento”, punível com detenção de seis meses a dois anos, pode ser utilizado para garantir a responsabilização dos estabelecimentos de ensino que se omitirem contra o bullying.
Há, ainda, diversos dispositivos do Código Penal, do Código Civil e mesmo do Código de Defesa do Consumidor que têm sido utilizados pelo Poder Judiciário em decisões relativas ao tema. Tais decisões resultam na aplicação de sanções administrativas, trabalhistas, civis ou criminais aos agressores, a seus pais e à própria escola, dependendo do grau e da extensão dos danos causados pelo bullying.
Pelo presente projeto de lei, buscamos trazer o tema para a legislação educacional. Como só recentemente o problema do bullying passou a ser reconhecido e estudado – provavelmente pelas enormes proporções que atingiu com a disseminação das modernas tecnologias de informação e comunicação –, a Lei de Diretrizes e Bases da educação nacional (LDB) não menciona especificamente o assunto.
Assim, pretendemos incluir na LDB, precisamente no dispositivo que enumera as incumbências dos estabelecimentos de ensino, a obrigação de promover ambiente escolar seguro, por meio de estratégias de prevenção e combate ao bullying.
Julgamos que essa abordagem seja a mais adequada, pois evita a padronização das medidas a serem adotadas – as quais devem ser definidas de acordo com a realidade vivida em cada escola –, além de contornar o risco de tipificar condutas já tratadas no arcabouço jurídico competente, de forma mais genérica.
Diante da gravidade do problema, estamos certos de contar com o apoio do Congresso Nacional para a aprovação do presente projeto de lei.
Sala das Sessões,
Senador GIM ARGELLO

Profª Marcia Gil de Souza
Coordenação Pedagógica Curso G9

sexta-feira, 10 de junho de 2011

A relação professor-aluno

A reflexão sobre a relação professor-aluno nunca é demais.
Esse assunto foi escolhido pelo Curso G9 neste ano para conduzir permanentemente nossa autoavaliação sobre o processo ensino-aprendizagem.
Deixo, portanto, abaixo, mais um texto para alimentar nossas reflexões a respeito.
Boa leitura a todos!

Gazeta de Alagoas, 10/06/2011 - Maceió AL
Professor-aluno na Andragogia
ROBERTA CAJUEIRO
Para que o professor consiga desenvolver seu trabalho com eficiência, é fundamental que exista um ambiente sadio, com um espaço adequado e com as ferramentas de trabalho em plenas condições de funcionamento, bem como de profissional docente familiarizado e articulado com essas ferramentas. Mas um ambiente sadio envolve também outros fatores, às vezes até mais importantes que o arsenal estrutural que a faculdade ou escola disponha. E, por isso, destaca-se um dos fatores mais importantes no processo ensino-aprendizagem, que é o relacionamento professor-aluno.

Já para um ambiente agradável, que favoreça o aprendizado, o professor deve provocar o aluno aproximando-o tanto para o conteúdo quanto para a sua interação e participação na aula com a exposição de seu pensamento. incluindo dúvidas. Esta é uma atitude estratégica que estimula o aprendizado, mas só funciona se ela for gratuita. Este envolvimento professor-aluno às vezes gera alguns questionamentos que transcendem os conteúdos curriculares pertinentes à disciplina, como: - Até que ponto o aluno pode ter um entrosamento amigável com o docente sem que isto interfira na sua autoridade? Onde se encontra o limite entre o profissional que exige produção, participação e bom desempenho e o modelo agradável que é compreensível e flexível?

A aproximação e a liberdade com que o aluno se apresenta hoje em dia é uma questão a ser discutida com cautela, pois esta liberdade pode ser confundida com intimidade. Às vezes, o aluno acaba confundindo tal abertura e apresenta uma postura deselegante, como por exemplo, ao se interessar por questões pessoais da vida do professor e de sua particularidade, ou expondo um ponto de vista não crítico, mas grosseiro em relação ao professor ou em relação a sua metodologia de ensino. Alguns alunos se sentem tão “folgados” neste “espaço” que lhes é fornecido, que se esquecem dos limites e de sua postura em sala de aula.
Tudo isso nos leva a recordar como antigamente o professor era tratado com tanta formalidade, cordialidade e respeito, de modo que não abria espaço para esta ocasião. Pode ser que esta distância gerada, característica do ensino tradicional, possibilitasse uma proteção que evitava que o docente se tornasse vulnerável a este desconforto; porém, esta barreira não contribuía para o aprendizado. O fundamental é que o docente saiba lidar com o discente, numa relação sadia e amigável, sem ditatorialismo ou autoritarismo – que não deve ser confundido com autoridade – e saber estabelecer os limites sempre que necessário. A flexibilização deve ser proporcional à sua eficiência no caminho ao objetivo. O docente que souber reunir tais características será verdadeiramente um modelo ideal de Educador e isso poderá definir o sucesso no aproveitamento da aula ou de toda a disciplina.

Profª Marcia Gil de Souza
Coordenadora do ensino médio - Curso G9

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Semana do Meio Ambiente e o Curso G9

Pessoal, estamos na semana do meio ambiente. A prefeitura de Itajubá está promovendo várias atividades, das quais o Curso G9 participou na 2a, 3a e 4a feira.
Nosso objetivo foi estar ao lado da secretaria do meio ambiente na proposta de relembrar as ações sustentáveis que precisam ser feitas em prol do planeta Terra.
Além disso, divulgamos nossa Feira do Conhecimento de 2011, cujo tema é Mata Atlântica e a Química da Vida.
O slogan (Mata Atlântica: Por uma Química mais Verde) e a logomarca foram desenvolvidas pelos alunos do Ensino Médio do G9 sob a orientação da profª Bruna, de Redação e da profª Anabel, de Arte.
Vejam abaixo o resultado do trabalho:
A logomarca escolhida, através de eleição entre todos da escola, foi a dos alunos Gabriel Valente e Luyz Renó, da M22. O slogan escolhido foi o dos alunos Clésio, Eduardo, Thales e Débora, da M12. Parabéns aos professores e alunos pelo excelente trabalho realizado.



Para continuar a enriquecer nossas reflexões, deixo aqui uma reportagem sobre iniciativas tomadas por escolas para proteger o meio ambiente.
Sugiro que pensemos o que cada um de nós pode fazer ou sugerir ao G9 para promover o meio ambiente dentro de nossa escola.
Boa leitura a todos!
Em São Paulo e no Rio, instituições abrigam iniciativas para proteger o meio ambiente
Leonardo Cazes
RIO - É do mundo acadêmico que saem os mais importantes alertas sobre as ameaças ao futuro do planeta. Nada mais lógico, então, que as universidades ponham em prática em seus campi iniciativas ecologicamente sustentáveis. Em São Paulo, USP e Unicamp testam o empréstimo de bicicletas para a circulação dos alunos. Já no Rio, a PUC promove, até sexta, sua 17 Semana do Meio Ambiente. As bikes, que há um mês começaram a ganhar a Cidade Universitária da USP, no Butantã, eram só uma ideia na cabeça de Mauricio Villar e Maurício Matsumoto quando os dois voltaram de um intercâmbio na França, em 2005. Alunos de Engenharia Mecatrônica, na época, eles resolveram desenvolver um sistema de aluguel de bicicletas baseado no que viram por lá, como trabalho de conclusão de curso. - Mostramos o protótipo conceitual para a coordenação do campus, que gostou e financiou - conta Villar.

Com duas estações e quatro bicicletas, o projeto PedalUSP está em fase de testes, mas já tem números positivos: a média diária, até agora, é de 5 a 6 corridas por veículo, com 500 inscritos. Já na Unicamp, dez bikes vêm sendo usadas para transporte no campus central, por até quatro horas por pessoa, desde o início de maio. Na PUC-Rio, a semana será dedicada ao verde, com apresentação de trabalhos ligados ao tema, exibição de filmes e várias ações de educação ambiental. A coordenadora de eventos do Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente (Nima), Fabiana Bellingrodt, explica que a iniciativa faz parte de um projeto da universidade. - No fim de 2009 foi lançado um documento com várias propostas para a PUC caminhar rumo à sustentabilidade. De hoje até quinta, quem entrar no estacionamento com três pessoas ou mais no carro não pagará nada. E, no dia 15 de junho, começa a coleta seletiva na universidade.

Profª Marcia Gil de Souza
Coordenadora do Ensino Médio

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Histórias Infantis e a formação de valores

O que fazer se os valores que deveriam nortear a vida em sociedade parecem cada vez mais esquecidos? Como educar nossas crianças e jovens num tempo em que a aparência vale mais do que a essência, o ter mais do que o ser? A competição e o individualismo ditam as regras dos relacionamentos, minando qualquer possibilidade de companheirismo, de amizade? Não podemos esperar que as novas gerações modifiquem o que está errado se não despertarmos para o fato de que cabe a nós, adultos, dar o exemplo.
As dificuldades, os conflitos, as guerras e a intolerância que se apoderam do mundo são resultado dessa inversão de valores que predomina na sociedade. É necessário reconhecer a importância de nosso papel como educadores e – com muita perseverança - amparar, reerguer, reavivar valores e atitudes que renovarão a confiança em dias melhores.
Com estas inquietações na alma Gabriel Chalita no seu livro “A Pedagogia do Amor”, por meio da análise de dez histórias escolhidas pela relevância de seus ensinamentos, resgata em nós - adultos comprometidos com o ato gratificante de educar - valores imprescindíveis para a formação da nova geração e a construção de um novo tempo.
Escolhi para compartilhar com meus colegas a história do Patinho Feio, criada por Hans Christian Andersen, pois ela aborda questões essenciais para os nossos dias como o respeito e a solidariedade. Quem não se comoveu, chorou ou sofreu acompanhando as peripécias do patinho feio, tão pequeno e indefeso?
A história narra a trajetória de uma ave que por sua feiura era desprezada por seus familiares e pelos animais do lugar onde nasceu. Porém, no final da trama consegue vencer as adversidades do destino, superando os obstáculos e provando sua superioridade.
Esse breve resumo, com certeza, é um passaporte mágico para nossa infância. Uma época singular, rica...
A riqueza da história reside na capacidade de despertar em nós o sentimento de amor ao próximo, de solidariedade e de respeito às diferenças.
Respeito! O que é respeito?
A palavra respeito vem do latim respectus que quer dizer “ação de olhar para trás; consideração”. No dicionário Houaiss da língua portuguesa, o vocábulo traz: “ato ou efeito de respeitar (-se), que leva alguém a tratar outrem ou alguma coisa com grande atenção, reverência, profunda deferência.“
O conceito de respeito está ligado às ações que levam à prática do bem coletivo e favorecem a manutenção da paz, da união e da boa vontade entre os povos.
Sobre o respeito Gabriel Chalita diz, “Infelizmente, o seu emprego tem sido relegado a ponto de observarmos a ascensão do preconceito, da competitividade exacerbada, da banalidade dos relacionamentos, do materialismo e da ambição desmedida.
Quando tomamos conhecimento dos infortúnios do patinho, é como se acordássemos para a necessidade de cuidar, de amar, de dedicar atenção a quem precisa, a quem está desamparado, carente, desprovido de apoio, perdido, fora do ninho.
O conto é rico em elementos e informações variadas que nos levam a questionar, a analisar, a debater e a refletir sobre os significados presentes na saga do pequeno protagonista. Um protagonista ímpar porque representa um herói às avessas, rejeitado por todos, a começar pela mãe, pelos irmãos e pelos membros da comunidade onde nasceu.
Esperamos como expectadores e, sobretudo, como seres humanos que se projetam no universo das histórias e das suas personagens, a superação das adversidades experimentadas pelo patinho feio. Desejamos que ele consiga vencer, devemos acompanhá-lo fielmente pelo universo negativo que pontua sua jornada. Uma jornada cheia de agressividade, de desdém, de preconceito e de intolerância – manifestações que jamais encontrariam eco se houvesse tanto no conto de Andersen quanto na vida real, o respeito às diferenças e o entendimento da importância dessa atitude para o crescimento emocional e intelectual de todos”.
O que tiramos dessa reflexão para nossa vida, como educadores, pais, cidadãos?
Temos a responsabilidade e o dever de orientar nossas crianças e jovens para a aceitação do outro, para a compreensão de que condutas preconceituosas ou intolerantes, só colaboram para a degradação das relações e para o desentendimento entre as pessoas. É preciso ensiná-los a respeitar a diversidade como algo inerente a um mundo pluralista, dinâmico, multicultural.
Podemos concluir também com a narrativa de Hans Christian Andersen que não há crescimento sem sofrimento; não há felicidade sem lutas, sem obstáculos. Não há sensação de pertencimento se não compartilharmos nossa vida, nossas experiências e nossos aprendizados com os que nos são ou não semelhantes. Devemos acreditar em nós e nos outros. Não há como nos sentir iguais se alimentarmos temores e receios em relação aos outros, mesmo que a princípio eles pareçam tão diferentes.

Prof.ª Maria dos Anjos

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Palavra, corpo e presença: a arte do professor contador de histórias

Quando contar histórias é uma arte
Dissertação aborda uso de recursos cênicos na sala de aula
MARIA ALICE DA CRUZ
Ainda na barriga, Lucas já deve estar atento às diferentes entonações da voz da mãe, Lívia Pinheiro, que ora parece alegre, ora calma, ora muito impostada, ora pianissimo. Daqui a alguns anos, quando fizer parte do universo escolar, talvez Lucas identifique essas oscilações da voz ao ser ensinado por um professor contador de histórias, assim como Lívia faz com seus alunos na rede estadual de ensino. A busca desse mestre capaz de envolver uma turma toda com o conteúdo expresso de forma prazerosa em sala de aula foi a motivação do trabalho de conclusão de curso (TCC) e também do mestrado de Lívia na Faculdade de Educação (FE) da Unicamp. A dissertação “Palavra, corpo e presença: a arte do professor contador de histórias” é um presente a pequenos escolares, que de uma vez por todas querem entender o que o professor procura transmitir nas aulas de história, matemática, literatura, arte, entre outras. Nela, Lívia buscou compreender qual a contribuição da arte de contar histórias no processo de formação continuada de professores de ensino fundamental da rede estadual de ensino.
Há muito anos, mas bem depois do tempo em que os animais falavam, era uma vez uma jovem estudante de pedagogia da Unicamp, que, encantada pela magia dos contos, muitos deles contados por ela mesma na escola ou no grupo Manauê, de Campinas, decidiu saber o que a história tem de bom a ponto de mudar a relação professor e aluno em sala de aula. Dentro das condições que tinha, passou a usar seu próprio carro para transportar um grupo de oito professoras da escola onde trabalhavam, em Campinas, para o Laborarte, da Faculdade de Educação da Unicamp. O convite feito às amigas para participar de uma oficina de formação em narração de histórias teve como objetivo, em oito encontros, levar as professoras a refletirem sobre as possibilidades dessa arte em sua rotina na sala de aula. Mas o que Lívia queria mesmo era sensibilizá-las a utilizar recursos cênicos para trabalhar a expressão corporal, a refletir sobre as obras literárias e a pensar uma proposta própria para trabalhar com os contos populares em sala de aula.
Mas a realidade quase minou a dedicação de Lívia. Algumas professoras, por precisar trabalhar em mais de uma escola para defender seu salário ou por problemas de saúde, foram desistindo das atividades por falta de tempo. Outras manifestavam a dificuldade de se soltar para interpretar diante dos alunos. Tais declarações fizeram com que Lívia desanimasse, mas “quando pensei que estava tudo perdido alguém veio e me resgatou”. Esse alguém é o conto O Príncipe Adil e os leões. O encontro das professoras com o conto deu nova vida às oficinas, e Lívia pôde concluir seu trabalho. E com melhores resultados, de acordo com declarações suas.
As reminiscências da infância, memórias compartilhadas pelo grupo, também ajudaram a consolidar o trabalho. As mais diversas lembranças, desde o cheiro de pão até o ambiente da casa da avó foram colocadas na roda e aproximaram ainda mais o grupo, que percebeu o quanto a imagem de si mesmo pode potencializar a capacidade de recriar uma história. “É muito importante para o professor-contador revisitar essas lembranças, pois esse baú de sentimentos e sensações que acessamos no momento em que contamos as histórias é que dá vida às palavras. É desta forma que a história toca e transforma, tanto aquele que ouve, como principalmente, aquele que conta”, acrescenta a contadora.
Satisfeitas, como demonstraram em seus depoimentos ao final da pesquisa, as professoras expressaram o quanto a oficina fez com que lançassem um olhar diferente para seus alunos. Ouvir que a dissertação aprimorou a relação professor-aluno soou como uma bela história para Lívia, cuja prática como professora-contadora sempre surtiu momentos de afeto com seus alunos. Ao observar as professoras interagindo, explorando a expressão corporal, subindo em mesa para representar, chegou a imaginar se elas seriam capazes de ser assim com seus alunos. A resposta veio quando uma delas revelou que a maneira de narrar uma aula da disciplina de história como contadora encantou não só os alunos mas a si mesma.
Sempre à espera de uma proposta diferente de aula, pequenos aprendizes se aproximaram mais de uma das professoras da oficina por causa de sua forma de contar histórias, segundo seu depoimento. Ao relatar o valor da formação continuada em seu trabalho diário, esta mesma professora declarou a Lívia o quanto é importante para o professor saber das coisas e poder levar o conteúdo apreendido para o dia a dia. “Saber que uma forma, um agrado ou a frase ‘Nossa, gente, essa aqui é a história mais linda do mundo’ aproxima a criança a meu favor”, relata em seu depoimento a professora. Ela ainda afirma, segundo Lívia, que ler e estudar tudo o que foi proposto a ajudou a realizar com dignidade seu trabalho, “fazer bonito e fazer bem feito. Isso ainda não é perfeito, mas da sala que eu tinha... Nossa, está tão bom”, relata a mesma professora.
Atento ao movimento da professora em sala de aula, e encantado com sua maneira de narrar os textos, um aluno de ensino fundamental é motivado a escrever histórias. Esse foi um dos motivos que fizeram uma das participantes da pesquisa declarar que valeu a pena, segundo Lívia. “Professora, você lê para a classe?”, disse o aluno, que, tímido, queria ouvir seu texto “O menino e o lobisomen” sendo lido para os colegas de sala.
Depois do trabalho de Lívia, as mudanças foram evidentes não somente na produção de textos, mas também no aproveitamento geral do aluno, que envolve todas as disciplinas do ensino fundamental, segundo as professoras. A partir desse depoimento, Lívia percebeu que a prática da leitura diária apreciada pelas crianças e pelo professor pode trazer importantes benefícios para a aprendizagem.
“Não foi a prática da professora que mudou. E sim a forma como passou a enxergar próprio trabalho com as histórias e o significado dessa prática para o seu dia a dia em sala de aula”, acredita a jovem pesquisadora, que, como mãe, espera ver João Vitor e Lucas, que esta por vir, em uma sala comandada por quem saiba mandar o recado com a eficiência que a arte de contar histórias proporciona, como ficou comprovado em sua trajetória.
A forma de apresentar sua dissertação diante da banca examinadora, de amigos e da família não poderia ser outra senão a arte de contar história. O roteiro, em que o imaginário traduziu a realidade, foi criado a partir de sua própria trajetória. Surpresa com a forma escolhida por Lívia, a orientadora Márcia Strazzacappa, diretora associada da FE, conta que o momento mais emocionante da defesa foi quando Lívia narrou a resistência inicial e a desistência de algumas professoras no meio do projeto e também o momento em que recobrou as força para prosseguir: “Estava quase me afogando, quando alguém me puxou”, disse a autora diante da banca. Para Márcia, a dinâmica adotada pela orientanda quebrou um tabu criado não somente no processo de ensino na sala de aula, mas também no ambiente acadêmico, mais precisamente, da sala de tese. “A Lívia levou a artista para o ambiente da defesa”, reforça Márcia.
O final da defesa também foi surpreendente, segundo a orientadora, pois relatou, no formato de um cinema mudo, o que viria a ser o resultado da pesquisa, com a resposta que Lívia tanto desejou: as professoras dançando e interpretando, sem qualquer tabu, os personagens do conto O príncipe Adil e os leões. Mostrando o quanto um conto pode modificar uma história real. E mudar a realidade da educação a ser recebida por Lucas, João Victor, José, Joaquim, Carol, Ana Laura, Sofia, Beatriz... E o professor que quiser que conte outras.


MinC seleciona projeto
A arte de contar histórias motiva outras pesquisas. Uma delas transformou-se num grande projeto chamado “Era uma vez uma história contada outra vez”, único da região sudeste a ser selecionado pela primeira edição do Pró-Cultura, em uma parceria do Ministério da Cultura (MinC) e do Ministério da Educação (MEC) em 2009. O título do projeto deve-se à missão de buscar , dentro do patrimônio nacional, histórias tradicionais que ajudem a abordar temas presentes no universo escolar das crianças, entre eles bulling, perda de pessoas queridas, medo, tolerância, diferenças, preconceito racial, entre outros. “Elencamos as mais fortes questões vividas na escola hoje”, afirma Márcia Strazzacappa, uma das coordenadoras do projeto.
O projeto, coordenado ao lado das professoras Valéria Figueiredo, da Universidade Federal de Goiás, e Karenine Porpino, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, envolve pesquisa acadêmica e produção artística, por meio da criação e divulgação de mídias como CD, DVD, libreto e oficinas de formação continuada de narração de histórias a serem oferecidas no último ano do projeto. Para isso, a execução deverá contar com profissionais da área de educação e também de arte. De acordo com Márcia, o projeto está em fase de pesquisa acadêmica.
Para Márcia, o projeto é mais uma motivação para que o conto seja explorado em sala de aula e, dessa forma, a expressão artística. Professora da disciplina Educação, Corpo e Arte, ela explica que as atividades de expressão corporal têm tido impacto no trabalho de professores formados pelo curso de pedagogia. A disciplina que iniciou como eletiva, hoje é exigida no currículo do curso. Um episódio relatado por ela durante a entrevista ilustra a importância da matéria na formação dos profissionais que têm como missão dar as primeiras orientações para futuros trabalhadores. Conta Márcia que uma aluna acometida por um AVC decidiu dar continuidade ao curso, mas esbarrou no fato de a disciplina, além de obrigatória, não permitir exercícios domiciliares, exigindo aulas presenciais. No primeiro dia, a aluna questionou o fato de ter que ser levada pela filha à faculdade. Na segunda aula, a filha estava na porta da sala e, na terceira, já pedia para acompanhar as atividades. “Tamanho é o envolvimento com as atividades”, afirma Márcia.
No final do semestre, depois da apresentação de conclusão da disciplina, em que figurou como um dos personagens principais, a aluna relatou o quanto a disciplina teria tornado suas quintas-feiras mais importantes, pois senão seria mais um dia da semana dentro de sua casa, impossibilitada de sair. As frases finais da aluna são replicadas por Márcia: “Talvez eu não consiga fazer tudo o que vocês me ensinaram aqui, mas nunca mais olharei da mesma maneira para meus alunos”.
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Publicação
Tese: “Palavra, corpo e presença: a arte do professor contador de histórias”
Autora: Lívia Pinheiro
Orientadora: Márcia Strazzacappa
Unidade: Faculdade de Educação (FE)

Professora Lívia - Inglês

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Homenagem ao Gari

16 de maio: Dia do Gari

Acredito que ninguém, nem mesmo o homenageado, tenha se lembrado desse dia.
Em Maio comemoramos o dia das mães, do trabalho, da enfermagem, relembramos a abolição da escravatura; os católicos, a aparição da Virgem Maria em Fátima, entre outros acontecimentos que marcaram esse mês, que é vinculado às noivas. Mas ninguém comemora, ou sequer lembra, o Dia do Gari.
Se não fosse por eles, toneladas de lixo se acumulariam nas ruas, nas casas e trariam doenças de diferentes tipos, sem contar o mau cheiro e o espaço ocupado por ele que,claramente, iríamos perceber, pois como diria Lavoisier: “Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo!”.
Vocês já perguntaram qual é o nome do gari responsável pela coleta do lixo em sua rua? Certamente que não. Inclusive eu! Entretanto, me preocupo com a sua segurança e tomo alguns cuidados que compartilho com vocês para que pensem em suas atitudes e mesmo que, indiretamente, passem a cuidar mais de nosso amigo “lixeiro”.
Separe o material que pode ser reciclado e lave o que é possível para que não fique com mau cheiro. São materiais que podem ser reciclados: papel (folha de papel, papelão, cartão, caixas), vidro (garrafas, copos, potes), plástico (garrafas, copos, potes e quase todo tipo de plástico) e metal (objetos de alumínio, como as latinhas de sucos e refrigerantes). Lembre-se de separar o vidro e colocar um aviso para que ninguém se machuque.
Também não podemos nos esquecer dos catadores de sucata. Eles contribuem com a maior parte dos materiais que retornam às indústrias para que sejam reciclados. Nos dias de hoje, estima-se que existam pelo menos 300.000 catadores em atividade no país (dados obtidos do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis – MNCR)
A contribuição desses trabalhadores ao meio ambiente é inestimável. No entanto, sofrem longas e árduas jornadas de trabalho expostos ao sol, chuva e puxando carrinhos que podem chegar a 400kg de papeis, plásticos, vidros e metais.
São pessoas simples, sofridas e que são muitas vezes confundidas com bandidos ou marginais. Coloquemos a mão na consciência. Que mal nos fazem? Muito pelo contrário! Fazem-nos um bem enorme! Com certeza merecem nosso respeito e admiração! Afinal, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão diz que “A liberdade consiste em fazer tudo o que não prejudica os outros!”. E eles nos beneficiam e muito!
Caso alguém queira entrar em contato com a associação de catadores de Itajubá, é só acessar o site da Prefeitura Municipal de Itajubá e solicitar que eles encaminhem o endereço eletrônico. Se necessário, eles recolhem o material a ser reciclado com apenas uma ligação.
Feliz Dia do Gari!

Postado pela profª Pollyanna, de Ciências - Curso G9

segunda-feira, 9 de maio de 2011

UMA REFLEXÃO SOBRE A NOVA REFORMA ORTOGRÁFICA

Uma Reforma Ortográfica numa Língua em expansão, como o Português, inicialmente propõe modificar apenas uma das vertentes da língua: a língua escrita; porém acaba transgredindo o limite da escrita, tornando-se uma questão política e polêmica, capaz de provocar discussões em todos os âmbitos possíveis.
O primeiro deles é o linguístico, que discute o que as mudanças realmente são capazes de provocar na escrita, e se alguma delas chega a alterar a fala. José Saramago diz à Revista Língua Portuguesa: “Se escrevo a palavra objecto, gostava de a escrever com o c entalado lá no meio, mas um brasileiro escreverá sem c. Mas isso é grave? A pronúncia é igual”.
Em seguida, podemos enxergar a reforma num aspecto político. O que se alega é que o objetivo da reforma ortográfica é unificar as grafias e fortalecer o contato entre os países lusófonos. Mas essa unificação é um conceito mais amplo que transcende os “simples” limites ortográficos. A unificação de que se fala é puramente política, mas nada se unifica na pronúncia, muito menos nos costumes linguísticos, e tudo continuará como está ainda por muito tempo. Luiz Costa Pereira Junior, na mesma Revista Língua Portuguesa, diz: “A reforma unifica não tanto quanto se queria, pois há hábitos intransponíveis nos dois países, como alertam linguistas de lá e de cá”.
Analisa-se também o aspecto educacional: o que muda na hora de ensinar as crianças falantes do português e os estrangeiros que quiserem aprender a língua portuguesa, que em quero não se pronuncia o u, mas em linguiça sim, apesar de não haver nenhum sinal que marque essa pronúncia. Professores da língua possuem agora a responsabilidade de se interar o máximo possível sobre o caso e saber ensinar, apoiando-se nos materiais didáticos, que também estão mudando.
A mídia é mais um ramo que procura tomar a reforma como assunto. Dicionários, livros didáticos escolares de Língua Portuguesa, Gramáticas e manuais: tudo será reeditado, para conforto ou desconforto de quem ensina e de quem aprende. Especialistas falam sobre o tema em rede nacional e até programas de entretenimento destinam um de seus quadros para testar se as pessoas estão informadas sobre as mudanças ortográficas. Alguns estudiosos dizem que a adaptação a uma nova reforma é lenta. Porém, no Brasil, não parece que será tanto.
Todavia, pode-se inferir uma demasiada falta de detalhes nas mudanças ortográficas. A impressão que se tem é de um caráter meramente político, ou muito mais político que linguístico. Algumas mudanças parecem linguisticamente fazer sentido, como a abolição do acento diferencial, alegando que o contexto em que uma determinada frase está inserida é perfeitamente capaz de diferenciá-la quanto à sua classe gramatical.
A exclusão do hífen em algumas palavras é outro caso coerente e de certa forma positivo, pois simplifica uma das regras de uso mais complicadas da Língua Portuguesa, tanto na visão de quem ensina quanto na de quem aprende.
Por outro lado, a abolição do trema é infundada quando se leva em conta a sua função. O trema é um sinal gráfico criado para marcar a pronúncia de uma letra. Com sua exclusão, cria-se mais uma confusão de várias que já existem com relação à pronúncia de palavras da Língua Portuguesa.
Algumas mudanças beneficiam mais o Brasil; outras, os demais países lusófonos. O que importa é que a reforma vingará, e a maneira como cada um interpretará e se adequará a ela varia.
Vale também ressaltar que a unificação de que se fala não é tão completa nem tão simples quanto parece. Ao contrário: parece um tanto quanto utópica. Uma simplificação e uma tentativa de unificação escrita facilitam sim o acordo político entre os dois países, mas não unificam por uma série de fatores linguísticos, como dialetação, regionalismo e uso popular.
A reforma, assim como o acordo já existente, aborda o campo ortográfico. As consequências que uma mudança na escrita poderá causar em outros campos, como o da Fonética, são ainda hipóteses. No entanto, apenas serão sentidas a longo prazo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Lisboa, dezembro. 1990
Revista Língua Portuguesa. Editora Segmento. Ano III, nº30, abril. 2008
www.ciberduvidas.com
www.soportugues.com.br
www.folhaonline.com.br

ESCRITO POR: PROFESSORA BRUNA MACHADO MORAES – LÍNGUA PORTUGUESA

las Nuevas Tecnologias de información y comunicación en ELE: Algumas consideraciones








Ao ler este artigo, percebi o quanto é importante estarmos atentos à realidade das novas tecnologias da informação e comunicação no ensino de espanhol como língua estrangeira (ELE).
Por isso, desejo compartilhar algumas informações com vocês.

Texto: las Nuevas Tecnologias de información y comunicación en ELE: Algumas consideraciones

Fonte: Revista New Rootes
Autora: Jorgelina Tallei
Data: Janeiro/2011

Abraços
Profª Priscila Rangel

domingo, 8 de maio de 2011

Transtornos Psiquátricos

Entendendo a mente
Colegas, a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa enumerou as principais características dos transtornos psíquicos mais frequentes nas pessoas. Penso que essa informação pode nos ajudar no trabalho em sala de aula. Boa leitura a todos!

1) Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)
Transtorno psiquiátrico caracterizado por pensamentos obsessivos (repetitivos) e intrusivos, de natureza sempre ruim (obsessões). Em função dessas ideias negativas involuntárias, a pessoa passa a adotar comportamentos ou atitudes também repetitivas (compulsões, popularmente chamadas de "manias"), como forma de tentar evitar que os pensamentos se concretizem. O portador sofre de um medo irracional e acha que pode ser responsável por uma tragédia (como a morte de um parente, por exemplo), caso não execute suas "manias". Ou seja, são os pensamentos obsessivos que desencadeiam as compulsões ou rituais.
Por exemplo: Se uma pessoa pensa seguidamente que pode se contaminar ao utilizar objetos que outras pessoas também usam, pode lavar as mãos repetidas vezes ao dia, tomar banhos intermináveis, evitar tocar em maçanetas ou utilizar banheiros públicos.
Quem tem obsessão por simetria (ideias constantes de alinhamento ou exatidão) sente incômodo ou pensa que algo muito ruim pode acontecer se deixar as coisas fora do lugar. Neste caso, ela pode desenvolver "mania" de organização: arruma sistematicamente os armários, as gavetas, as roupas, o tempo todo e não consegue ver nada fora do seu "esquema".
As obsessões são bem variadas e as compulsões também. Muitas vezes as compulsões (atitudes) que o portador de TOC desenvolve são totalmente inexplicáveis, mas é a forma que ele encontra para aliviar seus pensamentos obsessivos.
O TOC é um transtorno que traz muito sofrimento, cujo portador perde muito tempo do seu dia para cumprir seus rituais, acarretando em sérios prejuízos em todos os setores de sua vida (social, familiar, acadêmico, profissional).

2) Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH)
O TDAH é um transtorno neurobiológico caracterizado por três sintomas básicos: desatenção (instabilidade de atenção), impulsividade e hiperatividade (inquietação). Muitas crianças e adolescentes apresentam desatenção, inquietude e impulsividade. No entanto, algumas delas têm essas características em um grau muito mais elevado que o observado em seus pares da mesma idade. Podemos dizer, então, que essas crianças ou adolescentes são portadoras de TDAH. Trata-se de uma diferença comportamental de aspecto quantitativo e não qualitativo.
A condição básica para o diagnóstico do TDAH é a instabilidade de atenção (ora desatento, ora hiperfocado demais) e não a hiperatividade física. Cerca de 50% dos TDAHs não têm hiperatividade física, mas todos apresentam desatenção. Esta distração do TDAH se deve a uma mente acelerada, que vive a mil por hora, e que não consegue filtrar os pensamentos.
O TDAH é uma condição que se manifesta na infância e, na maioria das vezes, continua na idade adulta. Estudos revelam que 3 a 7% das crianças em idade escolar sofrem de TDAH. Entre 60 e 70% das crianças acometidas pelo transtorno levarão e continuarão com os sintomas na idade adulta. O que geralmente ocorre é a que a pessoa portadora de TDAH nunca foi diagnosticada. Por essa razão, estima-se que o TDAH é o transtorno psiquiátrico mais comum não-diagnosticado entre os adultos. Tudo não passa de uma continuação do problema que se iniciou na infância. O entendimento sobre o TDAH na fase adulta pôs fim a um mito, que perdurou por muitas décadas (inclusive na classe médica), de que o transtorno era exclusivo de crianças.

3) Psicopatia
É um transtorno de personalidade (um modo de ser e de existir), que se caracteriza por total ausência de sentimento de culpa, arrependimento ou remorso; falta de empatia com outro e emoções de forma geral (amor, tristeza, medo, compaixão etc). Os psicopatas são frios e calculistas, mentirosos contumazes, egocêntricos, megalômanos, parasitas, manipuladores, impulsivos, inescrupulosos, irresponsáveis, transgressores de regras sociais, muitos são violentos e só visam o interesse próprio. Eles estão infiltrados em todos os meios sociais, credo, sexo, cultura e são capazes de passar por cima de qualquer pessoa apenas para satisfazer seus sórdidos interesses. Podemos dizer que são verdadeiros "predadores sociais", almejam somente o poder, status e diversão e usam as pessoas apenas como troféus ou peças do seu jogo cruel.
Psicopatas não são psicóticos ou loucos. É muito comum as pessoas associarem psicopatia com loucura, mas isso é uma ideia totalmente equivocada. "Loucura" é quando há surto psicótico (onde existem alucinações e delírios), como ocorre com os portadores de esquizofrenia, por exemplo. Os esquizofrênicos são doentes mentais que vivem numa "realidade paralela", fora de si ou em ruptura com o "mundo verdadeiro", e, exatamente por isso, não têm noção do que fazem. Já os psicopatas sabem exatamente o que estão fazendo, que estão infringindo regras sociais, e que a vítima está sofrendo com suas atitudes maquiavélicas, imorais e antiéticas. Isso porque os psicopatas não apresentam problema algum de ordem cognitiva ou deficiência de raciocínio. A deficiência deles está no campo das emoções: aquilo que nos vincula afetivamente com o outro ou com todas as coisas do universo.
Os psicopatas podem ter níveis variados de gravidade: leve, moderado e grave. Desde os estelionatários, golpistas, falsos líderes religiosos, políticos corruptos, pedófilos, estupradores, até os assassinos ou serial killers. Porém, qualquer que seja o nível de gravidade, todos deixarão rastros de destruição por onde passam.
Até o momento, a psicopatia não tem cura nem tratamento. As pessoas nascem assim e permanecem até o fim da vida.

4) Bullying
Não se trata de um transtorno psiquiátrico. A palavra "bullying" ainda é pouco conhecida do grande público. De origem inglesa e sem tradução ainda no Brasil, é utilizada para qualificar comportamentos agressivos no âmbito escolar. Os atos de violência (física ou não) ocorrem de forma intencional e repetitiva contra um ou mais alunos que se encontram impossibilitados de fazer frente às agressões sofridas. Tais comportamentos não apresentam motivações específicas ou justificáveis. Em última instância significa dizer que, de forma "natural", os mais fortes utilizam os mais frágeis como meros objetos de diversão, prazer e poder com o intuito de maltratar, intimidar, humilhar e amedrontar suas vítimas.
As consequências do bullying são as mais variadas possíveis e dependem muito de cada indivíduo, da sua estrutura, vivências, pré-disposição genética, da forma e intensidade das agressões. No entanto, todas as vítimas, sem exceção, sofrem com os ataques de bullying (em maior ou menor proporção). Muitas levarão marcas profundas provenientes das agressões para vida adulta, e necessitarão de apoio psiquiátrico e/ou psicológico para a superação do problema. Os problemas mais comuns são: desinteresse pela escola; problemas psicossomáticos; problemas psíquicos/comportamentais como transtorno do pânico, depressão, anorexia e bulimia, fobia escolar, fobia social, ansiedade generalizada, entre outros. O bullying também pode agravar problemas pré-existentes, devido ao tempo prolongado de estresse a que a vítima é submetida. Em casos mais graves, podemos observar quadros de esquizofrenia, homicídio e suicídio.

5) Depressão
Não é apenas uma sensação de tristeza, de fraqueza ou de "baixo astral". É muito mais do que se sentir triste ou ficar de luto após uma perda, por exemplo. A depressão é uma doença de corpo como um todo (tanto como hipertensão arterial, a diabetes ou as doenças cardíacas) que afeta o humor, os pensamentos, a saúde e o comportamento. Estima-se que 10% da população mundial sofram de uma doença depressiva em algum período de sua vida.
O quadro clínico da depressão pode apresentar os seguintes sintomas:
- Tristeza persistente, ansiedade ou sensação de vazio;
- Sentimentos de culpa, inutilidade e desamparo;
- Insônia terminal (ocorre o despertar 3 a 4 horas da manhã) ou excesso de sono;
- Perda de apetite e do peso, ou aumento do apetite e ganho de peso;
- Fadiga e sensação de desânimo;
- Irritabilidade e inquietação;
- Dificuldade para concentrar-se e recordar;
- Dificuldades em tomar decisões;
- Sentimentos de desesperança e pessimismo;
- Ideias ou tentativas de suicídio;
- Dores crônicas que não correspondem aos tratamentos convencionais;
Perda de interesses por atividades que anteriormente despertavam prazer, incluindo-se atividades profissionais, sexuais ou mesmo lazer.
Mais de 85% daquelas pessoas que sofrem de depressão podem ser ajudados através de tratamentos adequados. O tratamento reduz a dor e o sofrimento causados pela depressão. Bem aplicado elimina os sintomas e permite que o paciente volte à vida normal. A precocidade do tratamento é fundamental para o sucesso terapêutico.

6) Transtorno de personalidade borderline
Também é um transtorno de personalidade (estrutural). Pessoas borderlines apresentam um padrão comportamental de instabilidade afetiva e interpessoal (apaixonam-se e desapaixonam-se rapidamente, buscam parceiros o tempo todo ou fazem dos parceiros a razão do seu viver), apresentam grande impulsividade e hipersensibilidade, são extremadas, não suportam o abandono (real ou imaginário), têm episódios de automutilação (se cortam, se queimam, se machucam), possuem sensação de vazio crônico, explosões de raiva totalmente inapropriadas e por qualquer motivo, e não têm senso de identidade consistente (não têm muita percepção de quem são). Acomete três vezes mais pessoas do sexo feminino que do masculino. Muitas pessoas com personalidade borderline já tentaram suicídio por mais de uma vez e é comum estarem envolvidas em confusões e consumo de drogas, terem libido exacerbada e levarem uma vida totalmente errática.

7) Transtorno bipolar
O transtorno bipolar do humor se caracteriza pela alternância de episódios de euforia e episódios de depressão, com épocas de normalidade nos intervalos. Em geral, os episódios se repetem a intervalos menores com o passar dos anos. Alguns pacientes apresentam mais períodos de depressão do que de euforia, enquanto outros, mais euforia do que de depressão.
Na euforia, existe uma exaltação do humor, com aumento de energia de forma desproporcional ou sem relação com eventos da vida. O paciente se irrita facilmente ("pavio curto") e o fluxo das ideias está acelerado. Familiares e pessoas à sua volta percebem claramente esta mudança de humor que, quase sempre, ocorre de maneira abrupta. O paciente não percebe que algo está errado. Atribui a mudança de humor a fatores situacionais, opondo-se aos argumentos médicos e familiares.

Profª Marcia Gil de Souza
Coordenadora Pedagógica

terça-feira, 26 de abril de 2011

A Tragédia de Realengo, a Justiça e a Não Violência

Colegas,li este artigo e desejei compartilhá-lo no blog. Segue abaixo.

Publicado por Milton Tavares Campos em Segurança Pública

Após ver o noticiário pela TV da chacina que um jovem de nome Welington, da periferia da Cidade do Rio de Janeiro, fez com adolescentes, seus vizinhos e frequentadores da mesma escola em que ele estudou, fico vendo os jornalistas totalmente perdidos ao tentarem explicar ou comentar a tragédia.
Busca-se um culpado fácil que não é encontrado, e aí ficam dando voltas, perdidos no meio do sensacionalismo e da exposição do desespero das mães, pais, irmãos, parentes, vizinhos. As autoridades totalmente perdidas sem saber o que fazer ou o que falar. Da mesma forma as religiões e a mídia, que são os grandes formadores de valores e ideologias. A prova desta desorientação geral foi o resultado inesperado do “Plebiscito do Desarmamento”, realizado em 23 de outubro de 2005, quando o povo brasileiro disse NÃO ao desarmamento unilateral e incondicional. Talvez neste assunto a opinião da maioria silenciosa possa ser esclarecedora e por isso resolvi dar a minha.
Há alguns dias tive a curiosidade de assistir um “filme de ação”, com Bruce Willys. É totalmente impressionante a indústria da carnificina. Mata-se dezenas, centenas, como se fosse uma brincadeira ou um esporte, a técnica de atirar rápido, ter boa pontaria e bons reflexos, além de contar com uma proteção sobrenatural que todo mocinho precisa. O que é mais importante nesses “filmes de ação” é que os caras depois de matarem adoidado voltam para sua bucólica cidadezinha americana onde vivem em paz com suas famílias, pelo menos até que outra missão de aventura os atraia.
Vocês não acham que estes rebeldes sem causa acabam influenciando jovens sem referência como Welington, que protagonizam estas tragédias em Realengo, Columbine e Virginia Tech? Outro dia na academia onde faço natação, eu estava no vestiário escutando as conversas dos frequentadores dos cursos de artes marciais e fisiculturismo, e percebi a força desta ideologia da violência, difundida tanto no cinema quanto na TV, e principalmente nos vídeo games.
Ao ver o noticiário real fico vendo a facilidade com que os países da OTAN, EUA, França, Inglaterra e outros, têm para bombardear a Líbia, uma situação que, fora o petróleo que lhes interessa, não lhes diz respeito diretamente. Fico pensando: como é fácil decidir matar e mais fácil ainda executar a decisão. Basta que Sarkozy ou Obama autorizem pelo telefone o pedido de um comandante militar para que as frotas marítimas, com Porta-aviões, destróieres, encouraçados e submarinos se desloquem, e que os aviões levantem vôo para despejar toneladas de bombas em cima de alvos nem sempre muito precisos ou claros. É evidente que muitos inocentes, ou seja, pessoas que não tinham nada a ver com o assunto, perdem as vidas. Se eu tiver que definir o que é terrorismo, uma palavra tão banalizada pelas superpotências que dominam o mundo através da OTAN e do Conselho de Segurança da ONU, eu diria: “é matar inocentes”. E quem mata mais inocentes que a indústria da guerra chamada OTAN?
De certa feita, quando estava em andamento a Revolução Argelina (1956-1962) contra o colonialismo francês, estando o líder revolucionário Mohamed Ben Bella preso em Paris, e contando com forte apoio da opinião pública mundial, os militares franceses resolveram apresentar o líder rebelde para uma coletiva de imprensa. Quando uma jornalista francesa perguntou a Ben Bella se era verdade que os rebeldes utilizavam barrigas de mulheres grávidas para transportar bombas em Argel, ele respondeu: “Pedimos desculpas por não termos aviões”.
Voltando para hoje, sabemos que o mundo todo ficou chocado com o atirador Welington que deu dezenas de tiros dentro da escola de Realengo, atingiu 24 e matou 12 adolescentes. Pois bem, ninguém pode questionar um bombardeio da OTAN que segundo o bispo de Trípoli matou 40 civis inocentes, ou seja, pessoas que não tinham nada a ver com a guerra. Quando nós nos curvamos diante da violência injusta dos poderosos que matam dezenas, centenas, milhares, pelo petróleo que ambicionam, nós estamos escolhendo uma escala de valores que é divulgada pelos Rambos, pelos Arnold Schwarzenegger, considerados diretores e atores de grande sucesso em Hollywood. Este último foi eleito por duas vezes governador da Califórnia, um dos estados mais importantes dos Estados Unidos, e foi nomeado duas vezes pela influente revista “Time” como uma das cem pessoas que ajudaram a moldar o mundo. Certamente que no fundo do inconsciente do jovem de Realengo os peritos irão encontrar as digitais do Schwarzenegger.
Causas psicológicas à parte, como evitar que novas tragédias como a do Realengo ocorram? Me lembro que em um atentado em Tel Aviv em que um homem entrou em um mercado atirando a esmo, a matança só foi contida quando um civil armado o alvejou e matou. Da mesma forma em Realengo foi uma pessoa armada que alvejou o atirador e certamente salvou muitas outras vidas. Não interessa se essa pessoa armada era civil ou policial, se estava ou não de serviço naquele momento. O que interessa é que alguém com valores de Justiça se valeu da Violência para deter o agressor e salvar vidas humanas.
Alguém, cujo nome não me recordo teve a imensa lucidez e coragem de dizer que a verdadeira Não Violência só será conquistada quando os justos forem violentos e monopolizarem o uso das armas. Se os justos desconhecerem a existência das armas, estas cairão na mão dos injustos. É preciso que os justos sejam violentos para conter a violência dos injustos.
Se quisermos um mundo de Justiça e Não-violência é preciso que nos transformemos em pessoas justas interiormente, mas não podemos desconhecer a existência das armas e da violência, precisamos garantir o uso Justo e Não-violento delas, e isto vale tanto para indivíduos quanto para os países.
Fundação educacional e cultural metropolitana de Belo Horizonte

Enviado por profª Marília Gil de Souza
Curso G9

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Bullying

Partilho com todos uma leitura que fiz sobre bullying. Devido à enorme problemática que ele representa nas escolas, devemos nos alimentar desse assunto, para estarmos cada vez mais preparados para lidar com ele.

Gazeta de Cuiabá, 11/04/2011 - Cuiabá MT
Bullying, mortal para quem o sofre
Francisca Romana Giacometti Paris
Vítima constante de apelidos humilhantes e gozações inadequadas durante toda a infância e adolescência, um jovem aluno, de 18 anos, entra na escola onde estudava e, com um revólver calibre 38, faz vários disparos, ferindo oito pessoas, e se suicida em seguida. Esse triste fato aconteceu em 2004, na cidade de Taiuva, no interior de São Paulo. Passados sete anos, em abril de 2011, um jovem ex-aluno entra na escola onde cursou parte do Ensino Fundamental e com dois revólveres, calibre 32 e 38, faz muitos disparos, ferindo e matando vários alunos para suicidar-se em seguida, após a intervenção de um policial militar.

Esses trágicos acontecimentos, felizmente, não são comuns na realidade brasileira, porém sua natureza nos leva à perplexidade e angústia. Assim, interrogamo-nos: por que esses jovens escolheram suicidar-se em um cenário em que outros, sem culpa pela sua decisão, precisam morrer com eles? Por que voltar à escola e provocar a morte de inocentes? Certamente as respostas não são evidentes e nem singulares; todavia há uma possibilidade para tão bárbara determinação: trata-se de pessoas gravemente perturbadas mentalmente, portadores de males que lhes tiram a percepção da realidade.

Diante da violência praticada nos episódios de 2004 e 2011 há, entre outras, uma questão que merece reflexão: os dois jovens eram introspectivos, de pouco ou nenhum relacionamento. E, segundo relatos da mídia, sofreram bullying durante a vida escolar. As pessoas vitimizadas por bullying não alcançam a solidariedade imediata das escolas. Há poucos dias, uma cena gravada ganhou contornos midiáticos por conta do efeito YouTube: um rapaz australiano obeso, farto de ser vítima de bullying na escola, resolveu reagir e agredir com violência quem o insultava. O vídeo se tornou sucesso na internet e só então foi notado e discutido pelos educadores da escola.

Quando se trata de um jovem adolescente, a negação dos pares causa muito sofrimento, uma vez que, para construir sua autonomia, é preciso o "rompimento simbólico" das referências familiares, principalmente em relação aos pais, e a aquisição de outras referências que são exclusivas de seu grupo. Nessa direção, não ser aceito ou sofrer humilhação dos elementos do grupo pode significar a impossibilidade de se tornar autônomo, crescer, fazer escolhas e tomar decisões independentes. Em outras palavras, se ele não existe para seu grupo, não existe para ninguém, inclusive para si mesmo.

O grupo, por sua vez, escolhe alguns membros e os elege como "vítimas sacrificiais", são os "bodes expiatórios" nos quais o grupo projeta as limitações e imperfeições dos demais elementos. Isso para que o grupo sobreviva. As pessoas todas, sem exceção, vivem conflitos grupais e o único meio de se livrarem desses conflitos é escolher um bode expiatório e depositar nele suas frustrações. Se tal procedimento é vital ao grupo, torna-se mortal para quem o sofre. Não estou aqui para fazer a defesa dos jovens que cometeram os bárbaros disparos nas duas escolas, mesmo porque não conseguimos vislumbrar qualquer justificativa possível. Todavia, não podemos esquecer que os dois jovens violentos foram alunos daquelas escolas. Talvez pelo fato de serem "silenciosos", não foram motivo de discussão ou atenção nas reuniões de conselho de classe, uma vez que ficavam quietos em seus cantos, sem incomodar o transcurso das aulas. Ou talvez, por serem distanciados de si mesmos e dos outros, não foram alvo de uma relação pessoal e mais presente de algum educador.

É simplificar demais, mas, sendo professora, faço-me uma pergunta: será que tais barbáries tiveram, para eles, o objetivo de manifestar uma dor insuportável? Queriam ser reconhecidos como colegas abarbarados e temidos? Queriam ser notados? Gostariam de ser chamados pelo nome e não pelo número? Desejariam ter um olhar educador que os reconhecesse como de fato eram e não como o grupo os definia? Termino sem respostas, citando Bertolt Brecht: "A árvore que não dá fruto / É xingada de estéril. / Quem examinou o solo?/ O galho que quebra / É xingado de podre, mas não haveria neve sobre ele? Do rio que tudo arrasta / se diz que é violento / Ninguém diz violentas / as margens que o cerceiam".

Postado por Marcia Gil de Souza
Coordenadora Ensino Médio/PV

quarta-feira, 6 de abril de 2011

VOCÊ SABE OUVIR ?

Como você vem se comunicando na empresa, em casa e com seus amigos? Consegue ser entendido? Consegue entender o que te solicitam? É claro no que fala? Atende com qualidade os que o solicitam?
Na comunicação, ouvir é fundamental.
EU PRECISO ENTENDER PARA ATENDER
No processo de comunicação, o emissor é responsável por 50% do sucesso da mensagem transmitida, e o receptor os outros 50%.
Não espere pelo outro para que o processo de comunicação seja eficaz. Faça a sua parte. Garanta o entendimento. Quem não entende não atende.
Você é um bom ouvinte?
Se for, tem grandes chances de estabelecer uma boa comunicação.
Faça o teste a seguir e valide sua percepção.

VOCÊ SABE OUVIR?

1 – Para ouvir, você mantém postura firme defronte a quem vai lhe falar assegurando um ambiente favorável?
( ) Geralmente
( ) Às vezes
( ) Raramente
2 – Para escutar você observa quem fala?
( ) Geralmente
( ) Às vezes
( ) Raramente
3 – Decide, julgando pela aparência e maneira de falar do interlocutor, se o que ele tem a dizer vale a pena ou não?
( ) Geralmente
( ) Às vezes
( ) Raramente
4 – Escuta procurando principalmente ideias?
( ) Geralmente
( ) Às vezes
( ) Raramente
5 – Enquanto ouve você, se deixa levar pelas suas tendências e as justifica perante o que diz o outro?
( ) Geralmente
( ) Às vezes
( ) Raramente
6 – Você presta atenção a quem está lhe falando?
( ) Geralmente
( ) Às vezes
( ) Raramente
7 – Ouvindo uma opinião com a qual não concorda, você interrompe imediatamente quem lhe fala?
( ) Geralmente
( ) Às vezes
( ) Raramente
8 – Antes de emitir sua opinião sobre alguma coisa que ouviu, você procura certificar-se de que compreendeu o que lhe foi dito?
( ) Geralmente
( ) Às vezes
( ) Raramente
9 – Sentindo que as suas convicções estão sendo abaladas pelo que ouve, você trata de “se desligar”?
( ) Geralmente
( ) Às vezes
( ) Raramente
10 – Você procura conscientemente avaliar o real significado da mensagem que ouve?
( ) Geralmente
( ) Às vezes
( ) Raramente
Chave de correção:
Questões 1-2-4-6-8-10
Geralmente – 10 pontos
Às vezes – 05 pontos
Raramente – 0
Questões 3-5-7-9
Geralmente – 0 pontos
Às vezes – 05 pontos
Raramente –10
Resultado:
0 a 70 – Você tem maus hábitos de audição
75 a 85 – Ouve bem, mas pode melhorar
90 a 100 – Parabéns, você é um ótimo ouvinte

SABER OUVIR
A capacidade de ouvir ativamente é fundamental para se conseguir boas comunicações. Aqui estão alguns pontos que podem ajudar as pessoas a serem melhores ouvintes. Alguns podem parecer muito simples e óbvios, mas pergunte-se constantemente, à medida que você for lendo estas dicas: “Quão frequentemente as pessoas com quem convivo, profissional e pessoalmente, tomam tais cuidados? Quão frequentemente eu próprio me preocupo com tais pormenores?”.

PARE DE FALAR – Você não poderá ouvir enquanto estiver falando;
COLOQUE-SE NO LUGAR DO OUTRO - Procure colocar-se no lugar do outro para poder sentir onde ele está querendo chegar;
PERGUNTE QUANDO NÃO ENTENDER - Ou quando necessitar de esclarecimentos adicionais, e também quando desejar mostrar que está escutando;
NÃO SEJA APRESSADO - Não interrompa a outra pessoa, dê-lhe tempo para dizer aquilo que tem a dizer;
CONCENTRE-SE NO QUE ELE ESTÁ FALANDO - Focalize sua máxima atenção no que o outro estiver dizendo. Procure a mensagem
DÊ SINAIS DE QUE VOCÊ ESTÁ OUVINDO - Utilizando formas verbais e não verbais de comunicação;
CONTROLE SUAS EMOÇÕES – Elas podem constituir sérias barreiras à comunicação eficaz;
COMPARTILHE DA RESPONSABILIDADE PELA QUALIDADE DA COMUNICAÇÃO – Somente uma parte da responsabilidade pertence ao emissor. Você é o ouvinte e, como tal, desempenha um papel importante dentro do processo. Mostre ao outro que você está ouvindo;
REAJA ÀS IDEIAS E NÃO À PESSOA – Não permita que suas reações à pessoa influenciem no julgamento do que ela diz. As ideias podem ser boas, não obstante sua impressão sobre a pessoa;
NÃO “DISCUTA MENTALMENTE” – Quando você está procurando entender outra pessoa, é sempre problemático “discutir” com ela mentalmente, à medida que ela vai falando. Isto estabelece uma barreira entre você e o orador;
USE A DIFERENÇA ENTRE AS VELOCIDADES DE PENSAR E DE FALAR – Você pode pensar mais rápido do que fala. Use esta diferença em sua vantagem para permanecer no rumo certo, preparar o que vai dizer enquanto fala, pensar naquilo que a outra parte já disse e avaliar o desenvolvimento da comunicação. A diferença é falar entre 100 a 150 palavras por minuto e pensar entre 250 a 500 palavras por minuto;
“OUÇA” AQUILO QUE NÃO FOI DITO – Por meio de uma “audição ativa” pode-se captar muitas coisas além do que a pessoa está dizendo (ou seja, ouvir “nas entrelinhas”);
OUÇA COMO ALGO É DITO – Frequentemente concentramo-nos tão profundamente naquilo que é dito, que nos esquecemos da importância das reações emocionais e das atitudes relacionadas àquilo que foi dito. As atitudes e reações emocionais do emissor podem ser mais importantes para a compreensão da mensagem do que aquilo que está dito em palavras;
NÃO ANTAGONIZE O EMISSOR – Você pode, antagonizando-o, fazer com que ele esconda suas ideias, emoções e atitudes;
EVITE INFERIR SOBRE O EMISSOR – Evite inferir que o emissor não o encara porque está mentindo, que está tentando embaraçá-lo, que está distorcendo a verdade porque não concorda com o que você pensa, que está mentindo porque interpretou os fatos de forma diferente da sua, que é amoral porque está procurando convencê-lo a concordar com seus pontos de vista, que é inflamado porque se entusiasmou na apresentação de suas opiniões, etc. Inferências como estas podem afetar seu julgamento e compreensão do que está sendo dito;
EVITE CLASSIFICAR O EMISSOR – Muito frequentemente enquadramos uma pessoa dentro de determinado estereótipo. Agindo assim, nossa percepção daquilo que ele diz ou do que ele quis dizer fica condicionada ao que sentimos pelas pessoas classificadas nos estereótipos. Às vezes, essa classificação nos ajuda a conhecer as pessoas e a entender suas inclinações, mas, certamente, devemos estar cientes de que as pessoas são diferentes e que não podem ser estereotipadas;

EVITE JULGAMENTOS PRECIPITADOS – Espere até que todos os fatos sejam colocados antes de fazer qualquer julgamento;

RECONHEÇA SEUS PRÓPRIOS PRECONCEITOS – Procure estar seguro de sua imparcialidade com relação ao
Você conhece quais são os principais ruídos no processo de comunicação?

RUÍDOS
É identificado na comunicação humana como o conjunto de barreiras, obstáculos, acréscimos, erros e distorções que prejudicam a compreensão da mensagem em seu fluxo “emissor x receptor” e vice versa.

PRINCIPAIS RUÍDOS NA COMUNICAÇÃO
 Ausência de identificação entre o emissor e o receptor, com percepções e reações diversas sobre uma mesma mensagem e seu conteúdo.
 Mensagem mal estruturada, seja no uso inadequado de códigos, seja no emprego deficiente de canais.
 Deformação do conteúdo da mensagem durante o processo de sua transmissão entre a fonte e o destinatário.
 Omissão de detalhes importantes da mensagem em nome de falsa objetividade ou comodidade.
 Deformações nos modos de falar, escrever, ouvir e ler, tanto do emissor como do receptor.
 Problemas de ordem pessoal entre emissor e receptor e vice-versa, prejudicando a boa assimilação da mensagem veiculada.
 Manifestação de boatos.
 Ausência de tempo hábil para codificar e decodificar a mensagem, prejudicando sua compreensão.
 Sobrecarga ou, ao contrário, escassez de informações durante a transmissão da mensagem.

FATORES PARA SE COMUNICAR COM PROVEITO
- As palavras e frases usadas:
o Devem ser simples
o Devem ser claras
o Devem ser espontâneas .
- A maneira de transmitir:
o Atenciosa (atenção centrada/simpatia)
o Com sinceridade (pautada na verdade/fatos)
o Gerando confiança
o Sem afetação
o Com gesticulação (o corpo fala)
o Com dosado tom de voz e inflexões de acordo com o assunto em questão.

A comunicação possibilitará:
- Desenvolvimento de VISÃO DE FUTURO e definições de ESTRATÉGIAS.
- Definição clara dos OBJETIVOS e PRINCÍPIOS propostos.
- ALINHAMENTO do pessoal à FILOSOFIA e OBJETIVOS COMUNS.
- CAPACITAÇÃO e DESENVOLVIMENTO dos colaboradores.
- Ampliação de COMPETÊNCIAS HUMANAS.
- Formação e Consolidação de EQUIPES.
- Obtenção dos RESULTADOS contratados.
Profª Maria Lúcia Rodrigues Corrêa - Doutora em Administração pela Universidade FUMEC. Mestre em Administração pela FPL. Psicóloga pela UFMG com especialização em psicologia organizacional.
Artigo enviado pela professora Silvânia
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